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A casa do meu filho Manel

 

Chamo-me Augusto e o meu filho mais velho chama-se Manel. O Manel trabalha em França, vai já fazer pra Março quinze anos. A vida, graças a Deus, não lhe tem corrido mal e, logo que juntou uns tostõezitos, começou a fazer uma casita na terra que o viu nascer, Vilar dos Mochos, uma aldeia muito isolada, que fica, passo ligeiro, a pouco mais de duas horas de caminho da Guarda.  

 

A casa, fica mesmo ao lado da minha, num bocado da horta que lhe dei, em vida, a ele e e aos meus outros dois filhos, o Benvindo e a Jaquina, que, até ver, inda estão solteiros e bons rapazes, que Deus me perdoe a comparação. Por fora, está tudo pronto e aí mais duas, ou três vacanças, mesmo sem pintar por dentro, nem ter luz, nem água nem esgotos já pode, à vontade, ir gente pra lá morar. Venha ela e depressa.  

 

O Manel trabalha na construção, e foi ele que fez o projecto. Depois foi um tal despachar. Para assinar o projecto, arranjou um engenheiro muito amigo dele que vive em Celorico da Beira, que andou com ele até à terceira classe, e que está muito bem visto, não sei se na Câmara da Guarda, se na do Fundão ou, até, se nas duas.

 

Eu por cá, vou andando e ajudo como sei e posso, enquanto ele anda lá a fossar por Franças e Araganças. 

Acabei de lhe fazer, nas traseiras, um aido que é um luxo prós porcos e prás cabras. Pus tudo por fora a dizer igualzinho, azulejos, portas, janelas de alumínio, e tudo, com a frente da casa para onde ele um dia, se Nosso Senhor quiser, há-de vir morar.   

Ainda não lhe mandei dizer, mas anda-me cá a roer por dentro uma coisa que não sei explicar. Nem, os porcos nem as cabras, mesmo à bordoada bravia, que eu, Augusto, às vezes sou meio torto, querem lá entrar. É o entras!  

 

Dormem na eira ao frio e ao relento. As malditas das cabras, sempre a balir, em cima duma pedras e os estuporados dos porcos, toda a noite a roncar, numa pocilga que fizeram, quase mesmo por baixo da minha cama.

Uns vizinhos dizem-me que é por causa dos azulejos, outros que é devido ao material das portas e das janelas, outros que é pelo feitio da casa. Eu sei lá!

 

Seja lá o que for, mas o que eu sei é que a bicharada não quer entrar.

 

 

***

O "engenheiro", e pelos vistos também "arquitecto",  Sócrates vai deixar lindas obras lá pela Beira Interior por onde andou. Todas por si assinadas, o que ele garante e de que muito se orgulha.

 

***

Sócrates, um excelente palrador, chegou a Primeiro-Ministro. Suceda o que suceder, a  série de escândalos em que parece estar envolvido vai manchar o seu nome.  A sua passagem pela (extinta) Universidade Independente foi comprovadamente uma vergonha. O resto ...

 

 

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