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A consola

 

 

Um destes dias o meu neto Henrique, que tem oito anitos feitos há pouco, deixou a consola que nunca larga e, anormalmente sério, com ar extremamente preocupado, veio perguntar-me:

Ó avô, os países também morrem? 

 

Senti um pequeno baque que com alguma dificuldade consegui disfarçar, fechei lentamente o jornal que ainda não tinha acabado de ler, limpei esmeradamente os óculos que na altura estavam mais que límpidos, pigarreei para limpar a garganta que estava mais que limpa, e, para ganhar ainda mais tempo, voltei a pôr demoradamente os óculos ajustando-os muito bem à cara, como se esta, de forma mais que intrigante, tivesse deixado de ser a minha.  

 

Para me recompor e ganhar mais uns segundos, respondi-lhe com uma outra pergunta:

Olha lá, porque é que, assim de repente, me fazes uma pergunta dessas? 

O Henrique, sem dizer palavra, pegou no jornal e, com o seu dedito, apontou-me uma notícia bem visível cujo título bem gordo dizia assim:

“Portugal está muito doente”. 

 

Quando lhe ia a responder já ele estava outra vez agarrado à consola!

Sem nada dizer a ninguém, saí de casa praticamente a correr para comprar uma consola só para mim.  

Espero que o Henrique tão cedo não venha a saber!   

 

 

***

Portugal faz parte dos países da Europa onde uma enorme crise bateu à porta. Depois, entrou e parece querer ficar.

Será que alguém ainda nos pode vir salvar?

 

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