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A descascar

 

Está no forno (já se sente, cá fora, um esperançoso cheirinho) uma importante achega para o desenvolvimento da inteligência humana que a nós muito pode vir a aproveitar.


A publicação científica norte-americana “NeuroImage” vai editar em Janeiro deste 2004, na sua edição “on-line”, (chamo a atenção dos especialistas interessados), os resultados a que chegaram cientistas japoneses ao estudarem as alterações ocorridas nos cérebros de 14 adultos, durante, (e espero que também após), a execução de determinadas tarefas, aliás tarefas muito simples ao alcance de quase todo o mundo. A amostra, embora muito reduzida, pois só 14 pessoas parece ser quase ninguém para se fazer um estudo deste tipo, é, todavia, segundo os referidos estudiosos, bastante conclusiva.


Então de que se trata? Parece provar-se que descascar, com uma faca muito bem afiada, uma maçã por dia faz tão bem ou melhor que comê-la!


Um velho provérbio inglês, ainda em vigor, diz que comer uma maçã por dia mantém o médico à distância (“an apple a day keeps the doctor away”).

 

Mas, pelos vistos, a simples operação de descasque acrescenta algo muito importante ao provérbio, por se verificar que estimula a parte mais desenvolvida do cérebro, devido a um manifesto aumento da corrente sanguínea. Segundo eles, os lóbulos frontais do cérebro são activados pelo uso de um instrumento potencialmente perigoso, como é o caso da referida faca bem afiada.


Também interessante foi verificarem que quando os tais 14 indivíduos se limitavam apenas a passar suavemente a faca pela pele da maçã, como quem delicadamente a acaricia, o fluxo sanguíneo se mantinha e os fulanos continuavam na mesma, isto é, tão espertos ou broncos como vieram ao mundo.


Não posso ainda dizer se é importante o comprimento da faca, (daqui e a olho, acho que sim), e, quanto ao tipo de maçã, parece-me, ao que vi na minha pesquisa, ter sido usada nos testes a vermelhusca “starking”ou coisa muito parecida.


Ansioso, não resisti e resolvi eu próprio descascar uma boa maçã do Tirol do Sul que tinha à mão. Ainda nem sequer lhe tinha metido uma dentadinha na polpa e uma intensa luz me iluminou, logo me vindo ao pensamento duas perguntas, para mim, anormalmente inteligentes: Será que o mesmo acontece se usarmos as nossas bravo-de-esmolfo? E se forem batatas portuguesas, será que a coisa também resulta?


Desde as maçãs, passando pelas batatas até tentar as facas, não encontrei em nenhum sítio material de origem portuguesa para poder, eu próprio, fazer qualquer experiência com a prata da nossa casa. Um terrível desespero e uma enorme frustração para mim: tudo importado!


Mas fiquei de bem com a minha consciência: fiz o patriótico dever de tentar. Por tabela, salvei a minha própria e tão querida pele, por não ter corrido o risco de ser escorraçado com uma chuvada de maçãs e batatas podres, nem ter levado com baldes e baldes de cascas e pevides que os muitos interessados no negócio me iam atirar e despejar pela cabeça abaixo.

 

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