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A farmácia

 

Não venho falar dos genéricos, venho falar de Portugal genericamente. .


Portugal é um país de gente maioritariamente pobre onde pululam os que ficaram ricos de repente, onde proliferam os que levam uma rica vida e onde uns poucos, gente mesmo rica, parecem, honestamente, ter ganho o seu pão.

 

Portugal é um país de ignorantes onde outros muitos, que nada sabem, se dão ares de tudo saber e uma restrita e recatada minoria, de facto, sábia é.


Portugal é um país onde a ladroagem abunda, proliferam os que fazem o que podem e lá está aquela meia dúzia de gente heróica que sempre honesta foi e honesta continuará a ser.

 

Portugal é um país de alcoólicos, onde alguns bebem até cair, outros bebem até oscilar e onde paira a tal meia dúzia de gente sóbria que pouco no álcool toca ou só água bebe.

 

Portugal é um país de condutores loucos, com um infindável número de transtornados e um muito reduzido número de gente sensata e cumpridora.


Portugal é também um país de escândalos; dos grandes de que ninguém sabe, dos médios que convém abafar e de que nunca se chega a saber e dos pequenos, que após prescrição e por vias tortas, lá se vai sabendo alguma coisa.

 

Portugal é uma espécie de vasta e desorganizada farmácia onde há de tudo, mas onde predominam as mezinhas perigosas já fora de prazo.

 

Mas Portugal, reconfortai-vos compatriotas meus!, como todos os outros países civilizados, é também um país de extremos. Só que, até nisto, há uma particularidade aberrante que infelizmente nos distingue dos nossos outros parceiros europeus: num dos extremos está a maioria e no outro está a minoria. No meio grassa uma enorme confusão e não se sabe bem quem está, onde está e quantos são.

 

Os matemáticos, estupefactos e desgrenhados, revendo dados, fórmulas e cálculos, dizem que não seguimos a conhecida e esperada curva de Gauss que é, “grosso modo”, para quem nunca dela ouviu falar ou dela já se esqueceu, uma curva em forma de bossa de camelo, mais ou menos acentuada na subida e na descida, com valores pequenos nos extremos e com um espaço quase plano no centro.


Dizem, entre eles e em desespero, os mais bem-humorados que foi nesta farmácia à portuguesa onde nasceu a bossa nova.

 

 

 

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Portugal, um país à deriva

 

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