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A farsa sem graça

 

Já ouço por aí vozes a defenderem que é necessário aumentar para doze anos a escolaridade obrigatória, isto é, toda a gente passa a ter o décimo segundo ano. Para quê, pergunto-me abananado, perante o desastre pedagógico a que vimos assistindo já com este nono.

 

Certamente, conforto-me eu, que, com mais três anos, vamos finalmente ter gente a saber ler, escrever e contar e outras coisas difíceis, que marcam a nossa ignorância patega, como saber a tabuada, somar, subtrair, multiplicar, dividir, resolver problemas elementares, e outras coisas que tais.

 

Calcular a área do quadrado, do triângulo, do terrível trapézio (sem falar nos inestéticos e desajeitados escalenos) e doutras figuras esquisitas fica para outra maré menos negra, quando esse ensino obrigatório passar aí para os 14, 15 anos, pois que, só com 12, a medida seria de uma violência atroz.


Do resto, justiça seja feita, tudo o que é necessário para ganhar carros, frigoríficos e micro-ondas, em aberrantes concursos de televisão, já é ensinado. Frequentemente, com os actuais nove anos obrigatórios, se ouvem respostas de fazer doer a alma. A maioria é desenvolta a falar de futebol, aqui e ali com tiradas profundas de fazerem doer desde a cabeça até aos pés, passando pelas mãos, o que, como se sabe, é contra a regra mais basilar desse jogo de multidões.


Parece ser evidente que, perante a diabólica (se quiserem, chamem-lhe santa) ignorância que grassa, já por habituação e agravada por acumulação anual, em todos os níveis de escolaridade, seria preferível começar por melhorar a qualidade do mau e degradado ensino básico (reparem bem, chamam-lhe básico) que temos, do que aumentar, (para Bruxelas ver, digo eu com malícia), a quantidade de tudo para se ficar a saber, basicamente, cada vez menos de nada.


Não seria melhor manter ou mesmo, (quem sabe?), diminuir este actual período onde passa tudo, ensinando, com rigor e exigência, melhor o que é realmente básico, sem veleidades de criar um país de sábios pretensiosos e ignorantes?


Mas não; para apresentar ao mundo civilizado que ainda por aí resta estatísticas demolidoras e gráficos de extasiar, onde se exibe o impressionante nível da nossa apetência pelo saber, pretende-se aumentar o período de gestação da ignorância para alimentar uma turba de gente inconscientemente perigosa.


Já não pretendo que se saiba que quem estabeleceu o teorema de Pitágoras foi o próprio Pitágoras e não Einstein, como a alguém já ouvir dizer, nem, longe de mim, quero que se diga que o homem era de Siracusa, que rima com hipotenusa.Também pouco me preocupa que se conheça quem é Lauro António (este que me desculpe) e se ele foi um grande costureiro português ou se foi o genial inventor do Lauroderme. Não vou tão longe.


De modo algum quero armar-me em pedagogo, mas deixem-me fazer uma abusiva perninha.


Se querem realmente aumentar os anos de escolaridade obrigatória e disso tirarem resultados efectivamente positivos, criando um novo ensino básico, que vai chamar-se certamente básico plus, onde nos últimos três anos passará a andar gente de bom arcaboiço, já bem crescida e robusta, sugiro que a partir do décimo ano, inclusive, sejam reintroduzidas as penas mínimas do cachaço, do puxão de orelhas, da régua, da palmatória e da cana-da-índia com muitos nós.


Feita esta retrógrada e anti-pedagógica alteração, mas de comprovado efeito no passado com frágil gente miúda quase saída do berço, a quem pretender entrar em qualquer área do ensino superior recomendo que se faça apenas uma prova, isso mesmo, uma boa prova de português escorreito. Quem der até dois erros, (se eles não forem muito graves) avança; quem der três volta na segunda época; quem der quatro ou mais é simplesmente irradiado e tem de moderar as suas pretensões de superioridade intelectual. Estes últimos vão todos bugiar.

 

Amigamente lhes recomendo, por exemplo, que acompanhados de um escadote, de um balde de cola e de um bom pincel com cabo extensível, vão colar cartazes de todos os tamanhos, até um dia serem chamados pela sua capacidade realizadora e dedicada militância.


Daí até virem a ser alguém, (quem sabe se ministro da cultura), é só um pulinho.

 

 

 

*** A degradação da Escola e a graduação pela Política

 

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