top of page

A injustiça funciona

 

Vou, como vai acontecer à esmagadora maioria de todos nós, pagar do meu bolso uns míseros avos que, apesar de mesquinhos, me custam os olhos da cara.

Sem os olhos da cara, como diria aquele muito conhecido senhor francês, qualquer um fica completamente cego, mas não é disso consequência obrigatória que a essa cegueira se venha juntar a mudez. Perde-se, por momentos mais ou menos longos, a fala e é quase tudo.

Não quero assustar ninguém com este quase, mas por experiência própria, sei também que, em casos de maior violência, àquelas duas incapacidades sensoriais se pode vir juntar a surdez, uma surdez muito característica em que deixamos também de ouvir por atordoamento mais ou menos transitório.

A fase aguda, aquela em que tudo se junta, e se fica cego, surdo e mudo, ao mesmo tempo, é terrível mas felizmente passageira, embora deixe sempre sequelas de vária ordem.

Acabo de passar por essa fase, ainda só vejo sombras informes e infames, mas já começo a ouvir razoavelmente e a conseguir articular palavras. Tem graça, mas o que primeiro disse (em privado) e o que primeiro ouvi (em público) foram jactos de palavrões. Ah, sim, porque eu também digo palavrões e, que remédio, também os oiço dizer, ou julgavam que eu sou um santo muito bem-educadinho?

Aqueles vinte e tal figurões que folgaram e divertiram, numa descontrolada cegarrega, à custa do meu avo e dos avos dos outros que como eu ficam cegos com estas coisas, por que se comportam como ratos cobardes que se fecham atrás de portas espessas a fazer de conta que, além de mudos bem calados, também são surdos descarados?
 

 

 

***Deputados na paródia, com tudo pago à nossa custa

 

 

bottom of page