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A minha escola

 

Ando numa escola que, desde que lá entrei, só tem um aluno e um professor, mais o pessoal auxiliar. Não digo, por modéstia sua, quem é o professor, mas aposto que já adivinharam que o imodesto aluno sou eu. Ele e eu damo-nos muito bem, apesar da sua severidade e rigor e de eu não ser um estudante a que se possa chamar brilhante.


O professor costuma faltar três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas, e eu às terças e quintas. Vemo-nos, cá fora, depois da missa do domingo e falamos sempre de coisas da escola, dos problemas da cantina e da falta que faz uma sala para os professores e de outra para os alunos. A escola está muito bem apetrechada e é pena que, por meia dúzia de uns ridículos amendoins, não façam dela uma escola exemplar.


Eu tenho o número do telemóvel do professor e ele tem o meu para podermos, em qualquer altura, "on-line", tratar de qualquer assunto de interesse pedagógico. A mim dá-me um jeitão para tirar dúvidas e ele, facilmente, pode controlar o meu comportamento escolar e marcar a matéria e os pontos conforme o meu evoluir. Pode-se dizer que a coisa funciona às mil maravilhas e somos um caso de verdadeiro sucesso escolar.


Como eu nunca fiquei chumbado e até tenho tirado umas notas muito catitas, a escola está muito bem cotada no "ranking" nacional e o professor, volta e meia, em Junho, é condecorado e, no fim de todos os anos lectivos, também em Junho, reúne à sua roda muita gente num almoço de homenagem, onde vão todos os funcionários da escola, os meus pais e até alguma gente de fora.

Não compreendemos o alarido que agora vai para aí, a ponto de quererem fechar a escola, por causa de eu ser o único aluno e, não sei quê, não sei quê, do absentismo, que muitos não sabem bem o que é e julgam ser a mesma coisa que o abstencionismo.


Outro dia, isto é um facto e a verdade deve sempre ser dita, coincidiu e faltámos os dois ao mesmo tempo. Era quarta-feira e fomos, de cachecol ao vento, incentivar, até à rouquidão e afonia, o C. D. Badajoz, que jogava contra não sei quem; fomos não apenas no interesse da escola mas, essencialmente, no nacional, ao serviço do nosso país. O Badajoz, para os que andam distraídos (que estava para subir de divisão, mas que mudou de táctica e, afinal, desceu), é um verdadeiro enclave português cravado na vizinha Espanha.


Para mais, estando Olivença ali quase ao lado, haverá alguém que não compreenda que tivéssemos deixado tudo para ir ao desafio, ver e aplaudir um clube que é tão nosso e ao nosso estilo, para que, a uns curtos quilómetros, naquela velha praça, saudosamente emocionados, os nossos sempre queridos irmãos ouvissem os nossos exaltantes clamores?!


Nós, que nunca damos uma falta, temos felizmente do nosso lado quem considere não ser de analisar, muito menos com urgência, as nossas ausências e as de outros compatriotas que, como nós, disseram presente! e atravessaram estoicamente a fronteira, correndo riscos e traições de toda a monta, para cumprir o pátrio dever de vingar o velho agravo, sem termos comido um único caramelo nem trazido uma só lata de "melocotón".

 

 

 

 

*** Muitos deputados portugueses foram "em serviço" a Sevilha ver jogar o F.C.Porto que de lá trouxe mais uma tacinha para o seu brilhante historial.

 

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