top of page

A minha tia Zulmira

 

Já lá vão muitos anos que à porta da tia Zulmira, mulher muito voluntariosa e extremamente destemida, vai bater todo o tipo de gente a pedir os mais variados favores, por vezes os mais arrojados e estranhos.

Incapaz de dizer não a quem quer que seja, mesmo que não saiba por onde começar, lá arranja ela sempre modo de chegar à fala com alguém que possa satisfazer o pedido que lhe é formulado.


A princípio, era gente humilde que pretendia livrar o filho da tropa, arranjar um emprego melhorzinho para o marido, fazer um pedido para que o neto passasse no exame, acrescentar dois ou mais andares na casa, etc., etc.


Ousada e cumpridora, logo que pode mete-se a caminho, umas vezes a pé outras na camioneta da carreira, e lá vai ela à cidade, que fica a cerca de seis quilómetros da aldeia onde sempre viveu, tentar contactar alguém que possa fazer o tão importante jeito.


Leva sempre consigo uma típica cesta de vime, daquelas com duas cores em forma de casinha com quatro pés, tendo como telhado duas tampas de abrir ao meio, e com uma pega no topo para transporte. Na cesta leva, diz ela, uma bucha para o caminho e... até logo, se Deus quiser, não se preocupem se eu hoje vier mais tarde.


Mete um dinheirito numa bolsa que traz sempre amarrada e escondida por debaixo do cós da saia e, logo, manhã cedo, desaparece lesta para cumprir a missão de que se incumbira.


Soubemos um dia, por vias muito travessas, que até políticos vindos lá de Lisboa, gente de alto gabarito, a ela chegam a recorrer na mira de cargos mais rendosos, preferencialmente exercidos no estrangeiro, conhecedores que são da sua fama de se saber insinuar e convencer gente da alta roda a satisfazer, ou, pelo menos, a dar um bom empurrão no seu pedido.


Ficámos espantados ao saber que ela, afinal, leva na tal cesta não só a bucha para o caminho, mas também uma dúzia e meia de ovos e uma galinha poedeira que ela entrega, deixando cesta e conteúdo, sem deixar o nome à empregada da casa da personalidade que, momentos antes, tivera a gentileza de a receber.


Eu que, dentro de um ano e pouco, me vou reformar e não quero ficar parado, já pedi à tia Zulmira que comece a mobilizar as suas influências para que me arranjem um lugar qualquer, de preferência daqueles muito bem pagos que obrigam permanentemente a gente a andar dum lado para o outro de avião.


Sou capaz de estar a pedir muito, mas, caramba, ela é minha tia!

 

 

 

***

 

     Os amigos de Guterres esfalfam-se a meter pedidos para que ele seja nomeado para um   bom  poleiro.

     Conseguiram. Guterres foi para os "refugiados" praticar o bem.

 

*** 

 

   a.1 

Jorge Sampaio anuncia estar disponível para qualquer cargo compatível, depois de terminar  o seu mandato de  PR          

 Vai conseguir, aposto! Nem que tenha de se meter a minha tia pelo meio.

 

 

   a.2  

O acima referido Jorge Sampaio também conseguiu! Foi -se a ares para  a área da Tisiologia       

 

 

 ***

     b.1  

Em 2016, Guterres, por limite de  prazo da sua função, deixa  os refugiados, por azar quando há mais refugiados que nunca . Querm atingir a Europa. Milhares deles, pobre gente,  ficam pelo caminho. Na travessia do Mediterrânio, empilhados em barcos superlotados, outros milhares ficam -se por ali afogados.  Guterres safou-se a tempo.

 

     b. 2

 Em 2017, os grandes amigos do bom do Guterres encaixaram-no  no topo das Nações Unidas. Por cá, o Padre Milícias está num sino  com a promoção  do seu  manso cordeiro. A minha tia  Zulmira já prometeu ir a pé a Donas, que fica mesmo à beirinha do Fundão, e é onde  o santo  do Guterres tem as suas raizes. Não  me espanta que  Marcelo Rebelo de Sousa , (na altura é nosso PR),  por lá venha a dar  um pulo. Garanto que o Padre Milícias também não vai deixar de por lá aparecer. 

 

bottom of page