top of page

As bruxas

O meu infeliz avô paterno, que tratava da sua lavoura com o maior zelo e esmero, sem receber subsídios de qualquer tipo ou lado, o que hoje é um feito extremamente notável, nunca na sua vida tomou qualquer decisão importante sem primeiro ir consultar a bruxa, aquela mesma bruxa que já vinha do distante tempo dos meus bisavós.  

 

Se o problema era mais bicudo e embrulhado, não fosse o diabo tecê-las, chegava mesmo a ir consultar uma outra concorrente pelo mesmo motivo, ficando, assim, com as duas avisadas opiniões, tranquilo e seguro daquilo que devia fazer.  

 

Qualquer delas morava a uns bons quilómetros que ele, ligeiro, a pé e à torreira do sol, galgava até chegar todo suado ao local da consulta.

 

Disse-me um dia o meu pai, (que, não sei porquê, nunca acreditou em bruxas), que em qualquer das consultas que, durante toda a sua vida fez, sempre ao meu avô lhe foi pedido para tirar a camisola interior que levava vestida para que melhor pudesse ser feita a benzedura de forma a serem afastados os maus espíritos e as almas penadas que a toda a hora pairam sobre nós.  

 

Um dia, sem qualquer das bruxas avisar, começou a aparecer uma pequena fenda mesmo no tecto do quarto onde o meu avô dormia. A fenda foi alastrando, alastrando, à vista dele e de toda a gente que por ali morava e lhe ia chamando a atenção.

 

Preocupado com coisas bem mais importantes, o meu avô, desta vez, resolveu confiar em si e decidiu não ir à bruxa.

 

Faz agora já não sei bem quantos anos que foi a enterrar e, ao funeral, nem uma só bruxa apareceu.

 

 

  

 *** 

Na ilha do Porto Santo, arquipélago da Madeira, uma palmeira já muito inclinada ameaça um dia vir a cair. Havia gente que, de vez em quando, ia ver a sua bem inclinada reverência. 

Por infortúnio, durante um comício do PSD, essa palmeira caiu mesmo e matou, logo ali, uma infortunada senhora. Outros que dela estavam perto ficaram feridos e algo maltratados. 

 

Alberto João Jardim, de semblante sombrio, suspende o comício.  

 

No seu falatório de ocasião queixa-se de tanto azar junto (enxurradas, etc.) que se abateu sobre a Madeira naquele aziago ano de 2010 e diz que é preciso ir à bruxa.

 

As enxurradas e a queda desta palmeira foram, por muitos que não eram bruxos, há muito tempo, previstas e em voz alta anunciadas.

bottom of page