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As excepções como regra

 

Durante muito tempo se disse, e continuará a dizer, que não há regra sem excepção. Sempre tomei tal aforismo como um exagero de linguagem, pois há imensas regras que eu conheço que não têm excepções e um sem fim de outras, que ignoro, que também as não devem ter.


Isto de regras e excepções leva sempre a longas conversas e, como sei que longas conversas só muito excepcionalmente levam a qualquer sítio, fujo a sete pés de tratar de assuntos desta natureza.


Então, quando me vêm com aquela outra de que a excepção confirma a regra, fico tão perturbado que quando me impõem uma regra, instintivamente, a primeira coisa que faço, para a confirmar e tomar como tal, é ver se lhe encontro ao menos uma excepção.


Mais me confunde ainda é ver que há regras com um tão elevado número de excepções que, em dada altura, hesito se devo cumprir estas ou seguir aquelas. Se o conjunto de excepções é demasiado elevado e todos os dias nos surge uma nova excepção, parece ser altura de formular uma nova norma, amputada de ressalvas, para que a gente melhor se consiga entender.


A maior parte dos desentendimentos entre pessoas vem mais do desconhecimento das excepções do que propriamente das regras. Grande parte de nós já tropeçou num encapuzado artigo que deita por terra todas as veleidades de crer na lei e estar dentro dela.


Também há quem, por natureza e mau feitio, seja avesso a cumprir qualquer norma, arranjando todos os subterfúgios para a ela fugir, nem sempre para obter proveitosos resultados, mas também por mera falta do mais elementar civismo.


As leis, também todos sabem, normalmente estão cheias de artigos e mais artigos que para serem interpretadas obrigam os próprios experientes legistas a consultar e a folhear livros e mais livros, mesmo assim, ficando muitas vezes em aberto várias leituras para esses "expertos" e muitas mais vezes para mim que sou um leigo na matéria.


Apesar dessa minha confessa ignorância, atrevo-me a dizer que leis assim não parecem poder estar bem feitas e que o que há a fazer é urgentemente alterá-las e aperfeiçoá-las. Fico-me por aqui.


Isto veio-me à mente quando me comecei a interrogar sobre o que se está a passar à minha volta com demasiada notoriedade e com uma regularidade impressionante.


Dou comigo, muito sério e muitas vezes, a pensar: afinal ser corrupto, ser pedófilo, oportunista, incompetente, ignorante, trapaceiro, enfim, ser algo que parecia ser anormal, é excepção ou passou agora a ser a regra?


Será que aquele conhecido senhor inglês de testa alta, cabelos compridos, bigodinho fino e gola muito larga com bicos, quando disse que “tubi or note tubi era a questão”, já andava, uns bons quatro a cinco séculos atrás, preocupado, como eu ando agora, a pensar neste tipo de coisas?!

 

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