
As festas
Este ano, contra um meu já muito velho e bem arreigado hábito, resolvi não enviar os habituais postaizinhos de boas-festas a qualquer dos meus, há muito certificados, bons e queridos amigos.
Em vez disso, preferi dar a cada um, ao vivo, uma telefonadela das fixas, como, nestas coisas, manda o bom senso. Queria ter o gosto de os ouvir e, puxa para aqui puxa para acolá, as conversas têm acabado, para surpresa mútua, por levar a temas bastante lúgubres e macabros, todos eles indomavelmente hilariantes, que nada têm a ver com festas nem meias festas e, muito menos, com a época de mais um Natal.
Depois dos primeiros acordes, a conversa descamba, muda rapidamente de bitola e, fatal, fatalzinho, começa a falar-se na tortuosa enfiada de orgias inenarráveis a que, passado que foi o primeiro espanto, vimos assistindo, com admirável humor e inesgotável paciência.
A conversa torna-se sempre longa e só com as ameaças megafónicas de que a sopa já está na mesa e começa a ficar fria nos despedimos desejando, à pressa, o que de início me levou a telefonar.
Para o ano, a coisa promete e, se calhar, há mais do já cansativo mesmo. Ou será que ainda vai ser melhor?
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Portugal está doente. Terá cura?