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As épocas da desova

 

Ainda o 25 de Abril despontava alegre pelas ruas e já conceituados economistas de boa fé auguravam um futuro promissor para todos nós só pelo facto de deixarmos de desviar verbas astronómicas para as mais que estúpidas e insensatas guerras que há anos se arrastavam, sem fim à vista, no Ultramar.

 

Quantos hospitais iríamos poder erguer, quantas escolas proliferariam, quantas estradas se rasgariam? Bairros da lata... zero! Tudo só com o dinheiro que para lá se deixaria de desviar. E sem termos que mexer uma palha!

 

Nós os leigos em economia, apenas habituados a lidar com míseros trocos, acreditámos sem qualquer esforço nessa previsão de evidência tão límpida. Os habituais pessimistas do Restelo, naturalmente Incorrigíveis e tacanhos, sussurravam: Uma ova!

 

Pudemos depois bater às portas da Europa e ela nos acolheu. Os novos soldados, agora gente engravatada e de malas bem aviadas, foram juntar-se a outros na luta por uma Europa coesa e solidária onde, em paz, a riqueza iria ser distribuída harmoniosamente.

 

 Mais hospitais, muitas mais escolas, universidades em todos os lugarejos, auto-estradas desentupidas iriam unir o país de lés a lés. Bairros da lata... apenas um terrível pesadelo há muito erradicado! Desta vez, só com o dinheiro que os outros até aí, egoístas gulosos, esbanjavam entre si. E a palha continuaria tranquila sem que nela alguém tivesse que mexer!

 

A soltar aos ventos os seus cansados murmúrios, abanando a cabeça a mares traiçoeiramente calmos, os eternos arautos da desgraça lá continuam, cada vez com mais gente a ouvi-los no seu ”ora pro nobis”, a sussurrar: Uma ova! 

 

Até quando vamos ter que acabar por lhes dar razão e entrar também na interminável ladainha?

 

 

 

***A chamada descolonização à portuguesa

 

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