Carta a uma jornalista da RTP

 

Minha Senhora,

 

A Senhora abraçou a carreira do jornalismo e entra-me pela porta com frequência. Durante a maior parte das vezes não lhe vejo a cara, mas, seja feia ou bonita, alta ou baixa, gorda ou escanzelada não é isso que me força a escrever-lhe. Eu disse força, porque não é meu hábito tomar decisões deste tipo.

 

A Senhora, apesar de eu não a conhecer pessoalmente, é sempre bem vinda tanto mais que é do Norte como eu e o senhor Pinto da Costa, Presidente do meu clube de sempre.

 

Ele nortenho, inteligente e homem de sucesso, por isso muito invejado, fala desinibido de modo fluente o português da terra onde nasceu, certamente indiferente ao “penso-eu-de-que “ que jocosamente lhe querem atribuir.

 

Ele, civilizadamente, assume, muito menos renega, a sua origem, de que também me orgulho, sem tentar imitar subservientemente os senhores de Lisboa que falam português como ele, mas, naturalmente, com a pronúncia própria da sua terra, que fica a cerca de trezentos quilómetros da nossa Cidade.

 

O senhor Pinto da Costa, o exemplo representativo que escolhi, não tinha de que se envergonhar mesmo que dissesse “baca”, “sabom”, “óito” ou “saunto”. Ter-se-ia de envergonhar se falasse, a sério, como um beirão, macaqueasse nos seus discursos a fala alentejana ou, como a Senhora, com péssimo ouvido, aliás, faz com o português de Lisboa que, confessemos, musicalmente é mais agradável de ouvir, quando não enfatizado pelos próprios lisboetas mais queques.

 

A Senhora tira-me a atenção, perturba-me os Noticiários, faz-me até mudar para a popularucha SIC e, desculpe-me a indelicadeza indesejada, mas construtiva como eu pretendo, envergonha-me perante os meus amigos que, aí sim, com razão gozam com os da nossa Terra.

 

A Senhora eventualmente será uma boa profissional.

Porque não se ouve a si própria e faz uma autocrítica sensata que a leve a ser o que é na realidade? Será difícil, por ser tarde agora, eu sei. Ou será que os que superintendem a RTP Porto determinam e apreciam que se faça assim?!

 

No caso da Senhora estão outros seus colegas daí.

Lembro um, de quem não sei agora o nome, que me estraga os jogos de futebol macaqueando o “lisboeta” com visível esforço e, tal como sucede com a Senhora, tirando-me a atenção. Se não joga o Porto, zap. Se joga, tiro o som e é uma sensaboria, como se ele perdesse por muitos.

 

A Senhora já reparou no desembaraço daqueles dois moços das Notícias das 13:00 que falam escorreitamente o português de Portugal sem estarem a pensar, palavra a palavra, donde são? Siga-lhes o exemplo e verá que, se tem valor como eu creio até possa ter, pudesse eu estar atento para o avaliar, ele será reconhecido por mais que à moda do Porto fale. Claro, que se não disser as asneiras, algumas graves, como as que alguns colegas seus com a linda pronúncia de Lisboa, muitas vezes nos brindam.

 

Peço que me desculpe de parecer, ou até ser, indelicado. Dizer certo tipo de coisas não é fácil, ainda para mais a uma Senhora.

 

Pretendo, como compreende, apenas defender os meus interesses de espectador que quer estar atento e livrar as gentes da minha Terra da chacota, neste caso bem justa, sem o bairrismo exacerbado dos que são inferiores.

 

Os meus cumprimentos e os votos sinceros dos maiores êxitos

 

IAB

 

98.03.03

 

 

 

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Esta Senhora não teve emenda e continua teimosamente na sua.

Escrevo esta nota em Junho de 2008. Já lá vão dez anos! Não lhe menciono o nome. Tenho vergonha.

 

Os seus dois colegas (jovens moços em 1998) que refiro têm tido um grande sucesso nas suas carreiras. Quero referir os seus nomes:

• Carlos Daniel que continua na RTP.

• Júlio Guimarães que passou para a TVI e depois para  o "Porto Canal"

 

 

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Em Fevereiro de 2015, sem nunca conseguir falar à moda de "Lisvoa", por lá continua esta "Sinhora" ... ... e até deve ter subido de posto, carago!

 

Não me digam. Cunhas?!

 

E das boas!

Só pode...

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PS 

Na carta que em 1998 enviei a esta Senhora, chamei eu "popularucha" `a  SIC.  

Estamos em 2015 e ali , parabéns, a coisa muito mudou. Parabens.

 

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