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Dali e os daqui

 

O grande pintor surrealista catalão Salvador Dali há muito que, por grande mérito e esforço seu, entrou definitivamente na História, deixando atrás de si uma vastíssima e notável obra que a quase toda a gente muito impressiona. Não se leva a mal que alguns, pouco atentos ou com diferentes sensibilidades, o conheçam mais pelas suas excêntricas maluqueiras e pelos seus arrebitados e lustrosos bigodes do que pelo vasto e precioso espólio artístico que nos deixou.  

 

Com maldade, e creio que também com bastante inveja, diziam alguns que Dali pintava não apenas com a sua sublime inspiração, mas muito com a ajuda da sua abundante transpiração, na mira de encher os seus gulosos bolsos de dinheiro e mais dinheiro. Esses seus pobres detractores da época até encontraram um anagrama formado com as letras do seu nome, para realçar essa sua terrena fraqueza: “avida dollars”. 

Aproveitando a deixa, deixemos Dali para falarmos um pouco daqui.  

 

Vivemos, hoje, numa época ultra-surrealista, como a todos os olhos salta por mais insensíveis que sejam, cheia dos mais ávidos e medíocres artistas salvadores que, com a maior das pompas e inusitado descaramento, praticam a sua arte, também de forma exímia e eficaz.

   

No meio deste caos organizado em que vivemos, não surpreenderá que alguns destes artistas contemporâneos venham a ter estátuas ou a dar o nome a ruas. O importante é que seus nomes e as suas artes não mais possam ser esquecidos, pintando todos os detalhes em boas telas com fundo negro, para serem zelosamente penduradas e guardadas nos recantos mais sombrios dos museus da história do nosso tempo.   

 

   

 

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Depois de escrever esta crónica, dizem-me que no Afeganistão a coisa ainda está pior.

Como será?!

 

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