
De regresso aos campos
Durante anos e anos joguei apaixonadamente no clube da minha terra que nunca passou da distrital e sempre andou muito tremido nos lugares mais baixos lá do fundo da tabela.
Fora das quatro linhas, comecei muito jovem a apanhar bolas e, dentro dessas mesmas quatro linhas, vagueei por vários lugares do campo, chegando a ser ponta de lança, onde meti alguns golos de certo aparato, no meio de muitas fífias dispersas.
Acabei por me fixar no lugar de guarda-redes, de todos, o lugar que mais me encheu e onde cheguei a fazer uma meia dúzia de defesas de que ainda hoje muito me orgulho e jamais esquecerei.
Cheguei, em certa altura, muito mais pelo meu porte temperamental do que pelo atlético, a capitão da equipa.
Confesso, desportivamente, que dei imensos pontapés na atmosfera, meti um sem número de golos na própria baliza e, enquanto guarda-redes, deixei entrar os mais inocentes e comprometedores frangos.
Em certa altura, resolvi dizer basta, o meu tempo já passou!
Da bancada, de boné de pala curta, com uma fofa almofadinha por baixo e uma bela manta escocesa sobre os joelhos, continuei a participar, assistindo a todos os jogos.
Não raras vezes, me exasperei com as actuações dúbias dos árbitros e me desatei a rir da aselhice da maioria dos participantes, fossem eles da minha ou da equipa adversária.
O clube está de pantanas. Ver os jogos… não basta!
Estou na disposição de voltar a calçar as botas, na condição de ter alguém que lhes aperte os cordões e vá buscar as bolas ao fundo da baliza.
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Mário Soares, uma pessoa fixe e com a próstata em muito bom estado, anuncia a possibilidade de, apesar de só ter 80 anos, se voltar a candidatar à Presidência da República.
O seu velho e pomposo camarada Manuel Alegre, que também queria fazer poeticamente uma perninha, que se vá lixar.
E vice-versa!