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Desconfiado que eu sou!

 

Lá vêm eles outra vez.


Agora é o ISE (Inquérito Social Europeu) que vem dizer que nós, portugueses, somos uns grandes desconfiados.


E desancam-nos. Não confiamos na polícia, não confiamos no sistema jurídico, não confiamos nos nossos parlamentares, não confiamos nas pessoas, não confiamos nas instituições políticas, não confiamos nos políticos e, muito mais grave, (para mais por ser coisa dada como certa), não confiamos no funcionamento da democracia. Pode lá ser?!


Mas vá lá, a esmagadora maioria de nós não tem medo de sair à noite no seu bairro, embora 23 % dos inquiridos afirmem ter sido assaltados nos últimos cinco anos. Isto leva-me a crer, claro que sempre estatisticamente falando, que esses heróicos noctívagos ou foram assaltados à luz do dia ou noutro bairro qualquer que não o seu. Esta percentagem, aliás, é muito similar à registada no resto da Europa, o que para nós é muito revigorante.


Para o conjunto dos países da União Europeia, mais desconfiados que nós só os gregos do costume, que parecem em tudo estar apostados a correr connosco às arrecuas. Quem viu aquela gente cinco séculos antes de Cristo e quem a vê hoje!


Nisto tudo há uma coisa que, todavia, muito me comoveu. Para nós, “ajudar as pessoas que mais precisam” é muito mais importante do que “obedecer às leis e às regras”. Toma!


Qualquer de nós, à margem destas conclusões, e muito antes do ISE andar para aí a “estatisticar” sabíamos ser desconfiados; para isso, desde pequeninos, sempre fomos instruídos e encaminhados. Vejam só alguns dos meus próprios exemplos.


No céu está uma nuvem, desconfio que vai chover. Dou um espirro, desconfio que me constipei. Mal começo a ver aquele filme cheio de Óscares, desconfio que ao intervalo me vou embora. Ao fim do primeiro capítulo do nobilitado “best-seller”, desconfio que não chego ao fim. Ouço o elevador parar no meu andar, desconfio que vem aí gente. Ouço passos na escada, desconfio que o elevador avariou.


Não dou mais exemplos. Desconfio que já perceberam.

 

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