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Egito sem pê de parvo

 

 

O chamado Novo Acordo Ortográfico que ainda não foi acordado mas que, por cá, alguns logo lançaram aos ventos, enquanto que por lá todos se estiveram nas mais aberrantes tintas, tem coisas muito giras e divertidas com que umas vezes me farto de chorar a rir e outras com que muito me canso de rir por tanto haver chorado.

 

No meu saudoso Licev de Alexandre Herculano, aqui no Porto, tive um grande amigo, colega de turma, estranhamente chamado Giptão. Um dia, lá me confidenciou ele que esteve para ser Egiptão, não fosse o escriturário que fez os assentos, ali, logo à nascença, lhe ter decapitado o E.

 

O Giptão, um moço muito inteligente e sempre calmo e sereno, marimbava-se para o nome que lhe puseram mas, fosse ele ainda hoje vivo, posso garantir que por Gitão é que ele não ia admitir ser renomeado. Ele saberia prever que, acordo após acordo, lhe iriam continuar a tirar letras e mais letras ao nome, acabando um dia por ser apenas Gião ou outra coisa qualquer, provavelmente, terminada em ão.

 

Disse há muito um dos fautores de tal  desastre que  há “incongruências aparentes” neste acordo como, por exemplo, continuar a chamar egípcio ou egiptanos aos que nasceram no mais que respeitável país chamado Egipto a que eles resolverem mudar o nome para, agora, tantos e tantos séculos depois, num crime de grandeza piramidal, lhe virem a chamar Egito.

 

 

***

     Escusai-me, ó gentes, mas isto não é um accordo que eu possa acceptare .

 

 

 

 

 

 

     

 

 

 

 

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