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Enjoo

 

Já não me enjoo até à náusea com a lixeira que por aí vai. Com a imundície comum das ruas, dos jardins, das praças, das praias, dos campismos, de tudo onde poise ou passe gente. Já não me repugna tanta borradela*** que vejo à minha volta. A que foi pincelada, riscada ou gravada nas paredes, nas casas, nos monumentos.

 

 Muito menos me atormentam as bravatas porcas, normalmente indeléveis, deixadas nas portas, paredes e tectos das casas de banho públicas pelos pensadores tímidos e pelos intelectuais mais parvos. Já não me aflige, nem até confunde, a profusão de cursos, de universidades, institutos e escolas superiores. Já quase nada me incomoda.

 

Mas o que me incomoda incomoda mesmo! Cito, sem ordem especial, as greves dos mais privilegiados, a impunidade dos mais notáveis, a desvergonha dos mentirosos topo de gama, o ar emproado dos donos da verdade e do pensamento, os atestados dos que atestam pela sua honra, as passeatas à custa dos que se esfolam, se tiverem ainda a pele, para pagar os remédios mais caros, e que se lixem os genéricos, os que… as que…

 

Ia agora eu enjoar-me com os costumes ancestrais de Barrancos! Os touros que paguem a crise.

 

 

***  Discutia-se, mais um ano, Barrancos, ( Portugal - Europa ), e as suas "tradições"

 

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*Nota: No PÚBLICO, uma gralha tresmalhada fez sair, em vez de borradela, "barateada".

Será que só eu dei conta?

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