
Enquanto houver couves
Tenho cá uma maldita fezada que isto ainda vai piorar mais. Vai, porque, não sejamos assim tão pessimistas, ainda restam muitas coisas em que piorar é possível. E, se é possível, meus amigos, é mais que inevitável que a tal vamos estar condenados.
A ignorância, multiplica-se exponencialmente cada dia que passa, como se fosse filha de coelhos tarados que passam o seu tempo em incestuosas orgias, sabendo que há couves, mas totalmente alheios a que há alguém que lhas vai cultivando.
A ignorância chamada “lápara”, numa pecaminosa simbiose, anda sempre acompanhada, de um lado com a petulância e do outro com a arrogância, sem que nenhuma delas faça a menor ideia de que é com o esforço e o saber do tal alguém que existe a humilde couve, a base do seu sustento.
Isto veio-me à ideia quando, uma vez, já lá vai pelo menos um ano, estava eu no meio de muita gente a comer couve galega recheada com ameixas e duetos de alcagoitas, enquanto o gozão do Woody Allen, num espantoso equilíbrio, com uma perna furiosamente a abanar, conseguia, ao mesmo tempo e sem dar grandes fífias, tocar uma espécie de corneta muito comprida que lhe deu o pai, já lá vai um bom par de anos, pelo Natal.
***
Woody Allen, que toca bastante bem clarinete, veio com a sua banda actuar no Casino do Estoril.
Entrevistada à entrada, a maior parte da distinta assistência endinheirada que ia ver o espectáculo não fazia a mínima ideia do instrumento que ele tocava.
Havia jantar e no menu constavam as coisas mais hilariantes.