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FINICISA

 

CENAS AVULSAS

 

 

GRANDE JANTAR DE APOIO

 

No dia 26 de Junho de 1990, realizou-se no mais distinto restaurante da cidade de Portalegre um jantar muito especial que o tempo não mais apagará da memória das gentes. Foi uma reunião de gastronomia requintada onde os dedicados apoiantes, tudo gente da Finicisa, quis expressar ao seu candidato natural o apoio sincero e fervoroso para a sua tão ansiada ascensão ao Poder.

 

Devido à exiguidade da sala, pouco mais de trinta convivas se puderam juntar orgulhosa e fraternalmente à mesma mesa onde se sentou o ilustre Candidato.

 

Cá fora, ficaram milhares e milhares de cidadãos de Portalegre, desde as mais conhecidas figuras aos mais modestos anónimos, que não puderam ter lugar e encheram, sem despegar, horas e horas de pé, as ruas, praças e jardins adjacentes, chegando a Norte ao Seminário, a Sul até à Sé, a Nascente às abas da Serra de S. Mamede e a Poente aos contrafortes da Penha.

 

Todas as janelas se abriram, delas pendendo as mais belas colgaduras e de todas elas foram lançadas pétalas e mais pétalas das mais raras e perfumadas flores.

 

Enquanto decorria o repasto, toda aquela imensa mole de gente que não conseguiu entrar, entoou com calor pleno de civismo hinos e slogans patrióticos, de incitamento ao seu Candidato, que entravam ininterruptamente pela engalanada sala de jantar, abafando o ruído quente dos pratos e o bater frio dos talheres.

 

A organização, perante a afluência de povo, providenciou imediatamente para que fossem instalados altifalantes por todas as zonas da cidade para que fossem ouvidos, cá fora por toda a parte, os discursos que haveriam de rematar o repasto.

 

Toda aquela gente que pôde participar no ágape veio, no fim, para a monumental escadaria nobre desse famoso restaurante, donde se fizeram discursos tão ardentes e inflamados que, mais uma vez, a zelosa organização, precavidamente, apelou para a vinda de várias corporações de bombeiros da região.

 

Todos os cafés, restaurantes, cervejarias, clubes nocturnos, velórios e casas de alterne se esvaziaram na ânsia de todos verem, ouvirem, e tocarem no Candidato.

 

As eleições destinavam-se a eleger um Presidente da República, mas o nosso candidato ia mais longe. Queria acabar democraticamente com o regime podre vigente desde 1910 e reimplantar a Monarquia. Não aquela Monarquia gasta e obsoleta com 800 anos de passado, mas uma nova Monarquia onde ele seria o primeiro Rei de uma longa dinastia.

 

Estava tudo pronto, nada faltava. Havia ele, que ia ser Rei, a sua fidalga e esbelta Senhora, futura Rainha, e as duas formosas princesinhas que, num longínquo dia, o viriam a suceder no trono. O Povo amava-os e Portugal finalmente iria ter a governá-lo uma figura consensual perante a qual até os republicanos menos talassas se iriam genuflectir.

 

                                                        **********

 

Deixo-vos, como recordação desse ponto alto de viragem na nossa gloriosa História,

a ementa desse inesquecível ágape, onde Portugal iniciou a passos largos

uma nova e longa era de Progresso e Prosperidade.

 

                                                       ***********

                                                                                          

 

                       ***  MÉ  NU  ***

 

ENTRADAS 

 

                      Caldinho de Nabo com ervilhas de cheiro

 

                   Ervilhinhas com um cheirinho a nabo 

 

 

PEIXE

              

                     Linguado à Rodoviária Nacional com Estrelas-do-ar 

 

 

CARNE

 

                    Bife de Vazio total à Regência 

 

 

DOCES

 

                    Asinhas de Anjo com muito papo 

             

                  Amêndoas sem miolo

 

 

 VINHOS

 

                   Água 

 

SAÍDAS   

      

                   Ca fé nunca nos abandone 

 

 

CHARUTOS 

 

                   Álvaros - King Size

 

 

 

PORTALEGRE,  26 de Junho - anno  MCMXC

 

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