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Já não vou passar a fumar mais

 

O preço dos tenebrosos maços de tabaco também vai aumentar, não para dissuadir as pessoas a deixarem de fumar, e, com isso, durarem mais uns tempos, mas com a finalidade de arranjar mais umas verbas para financiar tanto a saúde dos que fumam como a dos que não o fazem.

Eu, que fumo como um cavalo, ia (reparem que eu disse ia) assim contribuir com mais uns abençoados euros para ajudar o meu semelhante que não fuma, mas que tem pedra nos rins ou bicos de papagaio.

Como sou um indivíduo intrinsecamente bom, modestamente o digo, mal soube que o preço ia subir, de imediato, me veio à ideia passar abnegadamente a fumar mais que o referido cavalo, para, com o meu vício exacerbado pela minha bondade, ajudar o próximo sofredor, quer este fosse ou não fumador.

Depois, mais maduramente, reconsiderei: mas, se eu passar a fumar como um asno, isto é, muito mais do que fumam os cavalos, a minha esperança de vida vai ser ainda mais encurtada, deixando, assim, mais cedo de contribuir para essa grandiosa obra de benemerência a que, inicialmente, me tinha proposto aderir!

Quando atingi o meu máximo de lucidez e serenidade, achei que afinal o melhor era não encurtar, por aí, ainda mais o meu prazo de vida e passar a comprar também o tabaco, aqui ao lado, em Badajoz, aproveitando as vezes que lá tenho de ir às compras, sem nunca me esquecer de atestar muito bem o depósito num posto da nossa Galp, como fazem todos os bons patriotas como eu.

Deixo, com isto, de ser um reconhecido asno e continuo cavalarmente a não dar mais dinheiro para as scut, que é, no meio destas mexidas todas, aquilo que, mais e muito, me ia custar a engolir.

 

 

***

      Os aumentos que Sócrates, antes de tomar posse, prometeu não fazer

 

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