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Já viram o fiasco?

 

O meu tio Alberto, um homem muito sadio e viçoso, foi sujeito ao que os mais tementes, como eu, julgavam poder vir a ser uma operação delicada, daquelas que podem levar qualquer um desta para pior.

 

Mesmo em frente ao hospital onde ia ser operado, está um vasto espaço com ervas daninhas verdejantes, muitas delas em flor, onde até há pouco tempo se impunha um estádio de futebol que serviu, para gáudio de uns tantos, umas três ou quatro vezes.

 

Aí se juntou, para surpresa dos mais inocentes e castos, uma chusma de milhares e milhares, cinquenta e cinco mil ao que se anuncia, de pacientes com sintomas iguais aos do meu tio, todos, por curiosa coincidência, à espera que lhes fosse feita uma operação do género que os resgatasse da rentável epidemia que todos bafejou.

     

Graças a não sei quem, mas a Deus tenho eu bem a certeza que não foi, esta intervenção correu muito bem à maioria esmagadora dos operados, entre os quais se contava o meu tio que já por aí anda num alegre recobro ambulatório, como se nada tivesse sido com ele, sem uma única cicatriz nem marcas visíveis que o denunciem, a fazer regalado, mas sempre para melhor, a vidinha que fazia antes de ser resgatado.

 

Eu ainda tinha mais umas coisas que gostava de contar e com muito gosto as contaria agora, não fosse ter que ir preencher e entregar o meu IRS, antes que o impiedoso fisco me salte em cima.

 

Depois de tanta conversa, seria um grandessíssimo fiasco fiscal meu e até o meu tio, que se ri à farta de tudo isto, não mas perdoava e ia rir-se de mim também.  

 

 

 

 

 

***

 “ Operação Resgate Fiscal perdoa 95% dos contribuintes em falta ”

 

Este foi o grande título de primeira página do PÚBLICO de 9 de Março de 2009.

 

A notícia prossegue assim:

 

“Ao fim de seis meses, a Operação Resgate Fiscal ficou-se por uma cobrança de 8 por cento face aos 2800 milhões de euros retidos abusivamente pelas empresas, relativamente ao IVA e ao IRS deduzidos aos seus trabalhadores. O fisco partiu com grandes objectivos, mas acabou por despenalizar 95 por cento dos contribuintes que estavam em falta. O universo dos visados englobava, inicialmente 55 de mil empresas, mas só há processos abertos a pouco mais de 3 mil. … “

 

O Estado recuperou 250 milhões de euros em cinco meses e quedou-se por aí.

Quem foram os intocáveis a quem conveio que o processo não fosse levado até o fim?

 

**Nota 1

 

Quando acabei de preencher o IRS para 2008, que via NET entreguei no dia 10, um dia depois de ter saído a notícia no PÚBLICO, verifiquei que tinha a pagar € 24,95.  Sempre é uma ajuda!

 

    # ( Segundo a lei, o fisco não exige o pagamento de montantes inferiores a €24,94, nem reembolsa valores inferiores a €9,98)

 

**Nota 2

 

Junto a esta crónica, o PÚBLICO colocou uma foto mostrando o quarto de um hospital (?!)

 

Será que alguém não compreendeu bem  o que escrevi?

 

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