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Maiorias

 

Estamos todos a ver que, mesmo em democracia, governar com maioria absoluta leva a abusos e desmandos de toda a ordem, em muitos casos muito mais graves do que os ocorreram na longa mas relativamente amena ditadura como foi aquela que durou uma eternidade até chegar o dia 25 de Abril de 1974, mais um angustiante prolongamento em que os esforços abnegados de alguns se poderiam ter gorado e serem levados por água abaixo.        

 

Governar não é tarefa nada fácil e executá-la com o apoio de uma maioria, só aparentemente, a torna menos árdua para quem quer governar bem. Com gente honesta, competente e dedicada, (a ordem destes três adjectivos não é arbitrária), é de esperar eficiência e sucesso na obtenção dos melhores resultados, fatalmente, sem o apoio nem a compreensão de todos e sempre com críticas, justas ou não, de todo o tipo a choverem de vários lados. 

 

Quem governa com o apoio de uma maioria está sujeito a um maior grau de exigências por parte dos governados, por estar mais livre para poder cumprir a sua tarefa com serenidade e dispor de mais tempo para meditar nas várias soluções para problemas com múltiplas variáveis. Quem sabe comandar deve ouvir atentamente e com respeito a voz dos outros, mesmo a dos seus adversários mais antagónicos e, sem qualquer constrangimento, deve analisar as críticas e buscar novas soluções. Dar o braço a torcer fica bem no fim duma luta leal e nada tem a ver com deixar amputá-lo por falta de coragem para lutar até ao fim.

 

As maiorias podem tornar-se perigosas, quando, com a sua dimensão, começa a encurtar a distância que as separa das execráveis ditaduras, por mais amenas que estas sejam ou pareçam ser.    

 

Por tudo isto, não nos peçam maiorias. Façam, discretamente, sem qualquer tipo de alarde e jactância, tudo para as merecer.

 

Não parece, mas a maioria do povo está atenta e também sabe pensar. 

 

 

 

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    Nesta altura, Sócrates governava com maioria absoluta

 

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