Mandioca
O Presidente da Venezuela acaba de sugerir ao nosso ministro da Economia** a exportação de mandioca para Portugal.
Vejo daqui a alegria que logo se estampou no seu rosto sempre risonho e sereno, perante tão sedutora e nutriente oferta e adivinho, como, aliás, todos adivinharão sem qualquer esforço, que não tardará muito a vir alguém, não tão risonho e claramente menos sereno, que também ninguém consegue convencer a estar calado, anunciar-nos que, pela primeira vez, e graças à política deste governo, vamos receber mandioca da Venezuela.
Como português, fico extremamente contente, não pela mandioca em si, que, diga-se, de tanto comer, enjoei em pequeno, mas pelo que da mandioca o espírito económico e extraordinariamente inovador* daquele nosso ministro vai, também pela primeira vez, conseguir.
Receio apenas que, perante o nosso génio inovador, Hugo Chávez se sinta logrado com a magnânima oferta que, num gesto largo, inadvertidamente fez e venha depois dizer daquelas coisas que obrigam a retirar completamente o som das televisões, enquanto velhos, senhoras e crianças estão na sala a encherem-se com enormes pratadas da mandioca de segunda que não foi utilizada no revolucionário processo de transformação por nós criado, evidentemente, pela primeira vez.
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Tal como com a mandioca, os portugueses, fazem verdadeiros milagres em tudo o que se metem.
Mas, com este actual governo socratiano, um dos mais pinoquianos de todos os que até hoje têm reinado, os milagres fazem-se pela primeira vez.
Valha-nos isso!
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Nota:
no texto que enviei para o PÚBLICO, o nome do Ministério que referi chamava-se Ministério da Economia e Inovação (MEI). Confirmei que é assim que se chama de facto. A palavra inovador, que aparece um pouco mais à frente, não foi escolhida por acaso.