
Mudanças de pele
Periodicamente, como quem retira uma luva pela cabeça, as cobras mudam por completo a sua pele. Essa capacidade de auto regeneração conduziu ao velho e enraizado mito, chamemos-lhe esculápico, de que as cobras seriam uns seres renováveis e, por isso, eternos.
Nós, falo agora do bicho homem, estamos sempre a mudar de pele, num permanente mas muito gradual descascar de que mal nos apercebemos, a não ser nos casos de ataques assoladores de caspa, ou de outros quaisquer males, que nos levam os cabelos e acabam por deixar liso e todo a brilhar o couro até aí legitimamente chamado cabeludo.
Imaginemos o que sucederia aos muitos que têm a capacidade metamórfica de rapidamente mudar de pele, se, ao mesmo tempo, também lhes caísse todo o cabelo. Iríamos, mais que pela certa, ter um mundo pejado de carecas luzidias, muitas delas escondidas pelos mais sofisticados e caríssimos capachinhos, infelizmente só acessíveis aos que mais rapidamente tivessem a capacidade de operar a sua própria mudança cutânea.
O que seria mais grave é que, a ser assim, haveria uma grande salgalhada de cabeças descabeladas e ser calvo tornar-se-ia num dos mais injustos e cruéis anátemas para os que, de modo natural, perdem o seu cabelo sem uma só vez terem mudado de pele nem estilo de penteado.
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Sócrates, depois da derrota do seu partido nas eleições para o Parlamento Europeu em 2009, aparece com uma nova cara inocente e terna a falar a todos com a maior das serenidades.
Virgem Santíssima!