No presente do indicativo

 

Há verbos que, tal como acontece com muita gente, servem para tudo. A ilustrá-lo aí está uma campanha eleitoral a que eu antes chamaria de Natal, não apenas pela época tão religiosamente escolhida, mas fundamentalmente pelos sonhos que faz alimentar e pelas prendas no sapatinho que vêm anunciar. E foi o mote que alguns candidatos nas suas campanhas vêm usando que me proporcionou fazer um delicioso exercício que eu não quero guardar mesquinhamente só para mim.

 

 

Escolham verbos no imenso rol do nosso idioma; qualquer verbo serve mas alguns deles são tão preciosos que não deixe de os conjugar e associar como a seguir indico. Do presente do indicativo, escolha umas vezes a primeira pessoa e outras a segunda do singular. Prefira, de preferência como diria o outro, os verbos mais correntemente usados na nobre arte da linguagem de confundir o próximo, e saboreie o prazer de os combinar.

 

 

 Se quiser continuar o infindável exercício, escolha outros verbos, mesmo os aparentemente mais inócuos, e verá que encontra sempre um par que com ele se ajusta como numa fofa luva virada do avesso.

  

Cumprir, dialogar, ficar, ser, estar, amar, enganar, faltar, encher, engordar, lixar, esmagar, fazer, reinar, mentir, levar (à certa, claro), sacrificar, enfardar, sugar, são alguns dos múltiplos exemplos que sugiro para usar em infindáveis combinações dignas de uma campanha na defesa do cidadão que, por analogia, eu sugiro se realize uma semana antes da Páscoa.

 

Vejam estes primores de “slogans” tão apelativos:

 

 

Eu corro…tu cansas. Eu fico…tu foges. Eu fujo …tu cais. Eu como…tu definhas. Eu compro…tu  pagas. Eu pago…tu bufas. Eu fumo…tu tosses. Eu cumpro…tu desconfias. Eu bebo…tu sopras. Eu sugo .. tu mascas. Eu … tu …  Eu ...tu …

Deus meu! Tanto eu grito e tu não ouves! E, se ouves, porque não dás ao menos um suave murro na mesa?!

 

 

 

 

 

*** "Slogan" da Campanha de Paulo Portas para a CML:  "Eu fico"   (não ficou)

 

 Uma marca de óleo alimentar oportunamente aproveitou para anunciar: "Eu frito." 

 (não sei se ainda frita ou se alguma vez fritou)