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No reino de Mário Soares

 

Mário Soares tem, segundo ele próprio confessa, muito mau ouvido, mas, não sei se por compensação ou se por descompensação orgânica, tem uma boa próstata. E porque tem muito mau ouvido só se ouve a si próprio e, quem sabe se também por ter uma boa próstata, gosta muito de pelos outros ser escutado e, especialmente, venerado.

 

Nascido em berço de ouro, Mário, por desfastio e moda da época, começou por ser comunista na era de José Estaline, já que nada o puxava para ser lusito, ou mesmo chefe de castelo, da gloriosa Mocidade Portuguesa na era de António Salazar. Isso levou a que, gentilmente, um dia tivesse sido convidado para ir passar umas lautas férias algures na então nossa ilha de São Tomé, num saudoso exílio que, já muito mais tarde, com tudo por nós pago e muito bem pago, haveria de revisitar acompanhado por grossa fatia da sua mais chegada e fiel Corte.

 

Na sua juventude, e apesar de a sua grande aspiração sempre ter sido de um dia vir a reinar, os seus nobres ideais republicanos levaram-no para Paris, terra da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, onde bem viveu alguns anos da sua juventude plus, convivendo e parlando, no seu muito mal enrolado francês, com os seus isocrómicos camaradas e indefectíveis "compagnons de route".

 

Para quem não sabe ou já não se recorda, Paris era naqueles tempos uma espécie de Grândola vila aloirada, muito bem cantarolada pela Edith Piaff. De Piaff ou não Piaff, Mário Soares nunca conseguiu trautear uma só nota de um só compasso afinadamente mas, para compensar, dela sabia de cor e salteado a letra de “La vie en rose”, porque essa era mesmo la vie que ele sempre sonhou levar e lhe assentava como uma luva da mais fina e genuína pele.

 

Um dia, sem quase se ter despedido de son ami Mitterrand, que não sei se tinha bom ou mau ouvido e apreciava música, mas sei que tinha a próstata feita num frangalho, Mário, muito apressado, regressou à sua tão amada Pátria que o viu nascer. Veio a tempo de ir a Santa Apolónia para receber aos abraços, (nada de beijos, não fosse o beijoqueiro do Brejnev ter ciúmes), o seu rival de odiada estimação, o lendário e venerando (olhe que não, olhe que não) Álvaro Barreirinhas Cunhal, que Deus não tem e muito menos ele próprio queria que Ele viesse a ter.

 

Mário Soares que, auguro eu, vai ficar na nossa História com o cognome de  "O Exemplar Descolonizador”, continua por aí, perigosamente senil, a perorar e a malhar indiscriminada e verrinosamente nos que não vão à sua missa, mesmo sabendo ele bem que essa possa ser a missa das solenes exéquias do País onde em bem fadada hora foi nado e principescamente criado.   

 

 

 

 

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Como diria o  ex-Rei de Espanha, Juán Carlos:

"Hombre, porqué no te callas?!"

 

 

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