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O Metro a olho

 

O aparecimento de uma fenda na estrutura do túnel para a linha do metro que há-de passar no Terreiro do Paço, em Lisboa, causou fortes preocupações nas gentes envolvidas no projecto e na sua execução. Não era para menos.

 

Avisadamente se suspenderam os trabalhos para certamente determinar as causas, analisar os danos, avaliar a sua gravidade e encontrar os remédios eficazes.

 

 Felizmente que a tal fenda, embora longa, algo profunda e de largura apreciável, após os pareceres de técnicos que eu, à partida, julgo gente muito competente, foi considerada doença circunscrita, estabilizada, sem motivos para muita e/ou tanta preocupação.

 

Sou um mero assistente que não pode adiantar muito mais e que apenas fica confiante nas soluções encontradas para que fique garantida a vida das pessoas que por lá hão-de passar. Coisas destas sucedem ao mais bem pintado.

 

Vi numa reportagem duma estação TV, não me lembro qual, toda a gente directa ou indirectamente responsável pela obra, de capacete enfiado como é boa norma, percorrer interessada o túnel a ouvir explicações dos técnicos e certamente, admito eu, a fazer perguntas sobre as causas e, especialmente, sobre a possibilidade do mal se poder ou não agravar.

 

Tarde de mais poderia ser, um dia, verificar-se que a fenda encoberta pela escuridão ou por belos azulejos, que as pessoas apressadas deixaram de olhar, resolvera, sem dizer água vai e ninguém de tal a tempo se ter apercebido, prolongar-se, em comprimento, largura e profundidade. Uma catástrofe que, perante os avisos de agora, seria indesculpável suceder a alguém por mais bem pintado que estivesse. Confiemos.

 

Mas, tal reportagem que devia, para nosso sossego, acabar em bem, teve algo de alarmante e catastrófico, que me fez pôr ambas as mãos e os respectivos braços na cabeça, como se me fosse cair, em casa, todo o túnel em cima.

 

Estendido no sofá, acabei, passado o primeiro terrível impacte, a contorcer-me de dores, não com os ferimentos produzidos por uma imaginária derrocada, mas com os profundos golpes de riso provocados por uma violenta e real estocada. Não devia acontecer ao mais pintado.

 

Apreciem as razões do meu sofrimento.

 

Um esquema claro e elucidativo acompanhava a reportagem. Aí se mostrava a tal fenda, o seu comprimento, a sua profundidade e a sua largura. Todos os elementos para podermos, à distância, avaliar a extensão dos danos e lançar bocas.

 

Mas, com esta nossa entrada na União Europeia, tudo é de esperar. E não é que eles, sem eu saber, adoptaram, à socapa, um novo sistema de unidades de comprimento!

 

Lá continua, graças a Deus, o metro para o comprimento e profundidade da fenda, mas, para a largura, não é que os malvados introduziram uma nova unidade?! Fiquei suspenso ao saber que a fenda tem aí dois dedos de largura.

 

Só quero é que me digam quantos dedos tem o metro para poder avaliar devidamente a gravidade da situação e, daqui, dar os meus fundamentados palpites.

 

 

 

 

 

*** Calinada num Telejornal da RTP

 

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