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O método de redução ao absurdo

 

Perante a gravidade do terrível atentado de 11 de Setembro que ceifou a vida a milhares de inocentes e depois de tantas respeitáveis vozes indignadas se terem feito ouvir, quem sou eu para, passado um mês, vir imiscuir-me atrevidamente num assunto de tal gravidade cujos efeitos estão muito longe de poderem ser avaliados? Mas não resisto.

 

Quem estudou matemática aprendeu a raciocinar usando o chamado método de redução ao absurdo, É lançando mão dele que eu me vou pôr na pele dos Louçãs, Vales de Almeida e outros intelectuais com a mesma linha de pensamento.

 

Comecemos então a raciocinar usando o referido método.

 

Para isso, vamos pensar que, por exemplo Louçã, vive nos terríveis subúrbios de Lisboa com os seus cinco filhos que ele, como qualquer Pai normal, adora.

 

Todos os dias os miúdos vão para a mesma escola, não longe do centro de Lisboa, e onde, devido à pequena diferença de idades, todos têm cabimento, embora em turmas diferentes. A sua própria mulher aí dá aulas, o que cai como sopa no mel.

 

São dez e pouco da manhã. Louçã que entra mais tarde, ainda em casa e enquanto se apronta, ouve pela rádio, impávido, que a escola onde tem todos aqueles seus entes queridos acaba de ser pasto das chamas que a todos devorou.

 

Fala-se em fogo posto e que alguém que mora num conhecido antro de marginais foi o cérebro, senão o autor, da pavorosa acção, movido por causas bem desconhecidas. Tranquilo, como é seu timbre, sai de casa de camisa aberta e sem gravata, muito menos preta, e vai pontualmente para o seu local de trabalho, onde com abraços comovidos dos colegas, lhe é confirmado que não houve sobreviventes e que, infelizmente, os corpos de todos os seus já foram mesmo identificados.

 

O mísero bairro onde mora o suspeito barrica-se perante a ameaça dos familiares das vítimas que querem apanhar, ”dead or alive”, o já confesso autor moral do atentado. Louçã, junta-se agora a eles e, subindo a uma tribuna improvisada, com a sua voz embargada, mas sempre doce e serena, a todos exorta à reflexão e compreensão. Que olhem, antes de tudo, para as condições de infame degradação em que aquela gente vive e por quem ele, como todos sabem, sempre tanto vem lutando. Que vejam o resultado de políticas erradas, etc., etc.

 

Os outros pais, familiares e amigos das vítimas, de cabeça baixa e mordidos de remorsos, abandonam o local, não sem antes ajudarem, com carinho, Louçã a descer de cima do amolgado bidão.

 

 

 

*** Os ataques terroristas às Torres Gémeas e ao Pentágono, com milhares de vítimas inocentes, fazem levantar as habituais vozes "compreensivas" para os justificar.

 

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