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O mundo animal

 

É comum ouvir de gente justamente indignada expressões do tipo: trata o filho pior que a um cão; o que ele fez ao pai não se fazia a um animal, o patrão trata-o como se fosse uma besta; bate na mulher como quem bate numa cadela, dá sovas no filho que nem num gato, etc., etc.

 

Este tipo de desabafos, com a única desculpa de serem frases feitas, impensadas e repetidas ao longo de gerações, tem no fundo muito de significativo sobre o comportamento dito humano (des).   

 

 Não poucos, infelizmente muitos, estão conscientes, senão orgulhosos, do que dizem e, para eles, projectar pelo rabo o gato que dormia descansado ao sol, dar pontapés no cão (chato, diga-se) que não se queria calar, apenas ia como um amigo no seu encalço ou lhe estava no caminho, apedrejar a cadela ruça e escanzelada de tetas secas a abanar que mete nojo de faminta, bater e picar desalmadamente o manso boi que vai ronceiro, esporar com violência o cavalo de quem se diz amigo, matar duma estocada o touro que, por ser um animal a quem classifica de nobre, por certo aceita e até pede a morte em público com a inerente dignidade que tal nobreza lhe exige, este tipo de desabafos, dizia eu, é atitude normal e até, desgraçadamente, uma marca de valentia e estatuto desses tais muitos.

 

Por amor de Deus, não me venham agora perguntar se não como carne nem peixe, se tolero o mosquito que me sobrevoa rasante na noite quente ou se não tento sequer enxotar, também à auto-bofetada, a mosca, exageradamente teimosa e verde de magra, que não me quer largar sob um sol abrasador!

 

 

 

 

*** Amor aos animais

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