O rabecão
Zapatero é o novo primeiro-ministro espanhol. Toda a gente, com um bocado de miolo, e que não viva obcecada a dizer que os americanos são isto e mais aquilo e que Cuba nem é isto nem é aquilo, sabe bem o porquê da reviravolta de última hora de parte do eleitorado espanhol.
Aznar e mesmo os de outra cor política que o antecederam fizeram excelente trabalho e elevaram Espanha ao invejado nível de desenvolvimento que está bem vista. Espanha é hoje um dos países mais desenvolvidos da Europa, quando ainda apenas há trinta e poucos anos qualquer português que a visitasse, por muito pobretanas que fosse na sua terra, se sentia lá quase como um milionário com a meia dúzia de pesetas que levava no bolso.
Lembro, só para dar um exemplo bem visível do pulo que deram, que os "coches"que circulavam pelas suas ruas e estradas eram, na sua maioria, carripanas quase em desagregação que qualquer das nossas pandeiretas mais rascas fazia envergonhar.
Hoje, é o que se vê: os "coches" são do melhor e incomparavelmente mais baratos, os combustíveis custam muitíssimo menos, os salários deixam a apreciável distância os que por cá se praticam e, agora, quem fica envergonhado são uns tantos que ainda alguma vergonha têm.
Espanha, após uma rápida convalescença, é hoje o que é, e os nossos "milionários" de então, que viveram de perto essa época, vêem, com desgosto e imensa preocupação, o quanto vamos ficando para trás. E agora o nosso atraso já não mais pode ser justificado, como durante tanto tempo foi, pela existência duma execrável ditadura que nos asfixiava e duma guerra colonial que nos esgotava!
Portugal é hoje um país livre onde eu posso dizer, se cumprir o dever elementar de não ofender ninguém, o que muito bem me apetece, sem ter de recear, palavra a palavra e nas entrelinhas, que venha alguém amputar o meu pensamento e que me arrisco a ser engavetado só porque estou a escrever o que muito bem ou mal me vem à cabeça.
Digo, francamente, que não gostei da forma como Zapatero se desenvencilhou da guerra do Iraque, embora saiba que, na sua corrida eleitoral de candidato considerado vencido à partida, tivesse feito promessas que sabia não ir ter de aplicar se não tivesse acontecido o que infelizmente aconteceu em 11 de Março e que varreu tudo com uma onda de terror.
Zapatero, quase posso garantir, vai continuar com sucesso, obviamente com outro estilo e outro ritmo, o trabalho dos que, da sua ou de outra cor, o antecederam. O seu êxito, pode dizer-se, está à partida garantido porque a coisa, ao contrário de cá, entrou há muito nos eixos e funciona.
Seriamente, muito me preocupa ver Portugal cheio de aprendizes de "zapateros", que tudo criticam e prometem, sem que a maior parte deles procure, antes de tudo, aprender a pôr aceitavelmente tacões e meias solas, em vez de se dedicar a encher-me os ouvidos com as tremendas fífias do rabecão que se abalançam a tocar.
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Aznar (direita) antecedeu Zapatero (esquerda) na chefia do Governo espanhol.
Com um ou outro a Espanha progrediu!
Por cá, tudo bem muito obrigado.