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O tamanho do pé

 

Não nos deixam em paz, pensei eu.

Agora era a vez de a organização de defesa do ambiente "World Wildlife Fund" (WWF) vir revelar que Portugal tem pés demasiado grandes. Dos 146 países estudados, no seu Relatório Planeta Vivo 2002, ocupamos o 24º lugar, com pés de tamanho muito próximo dos dos alemães que, como toda a gente sabe, têm uma respeitável patarrona a condizer com a sua compleição e estatura.

Não podia ser! Comecei, mais que atento, a olhar para o chão para apreciar o número dos sapatos que os meus compatriotas usam e a registar cuidadosamente os valores encontrados. Concluí que as senhoras calçam, em média, o delicado 36 e os homens rondam por baixo o sóbrio 42, raros sendo aqueles que ultrapassam este valor. O elevado universo de pés que apreciei permitiam-me afiançar que o resultado do referido relatório estava grosseiramente falseado.

Procurei afanosamente o jornal onde lera a notícia, para confirmar o que me pareceu ter lido e se os meus resultados estavam ou não estavam estatisticamente certos.

Falávamos, afinal, de coisas diferentes e, quer eu quer o WWF devemos estar certos. Eu falava dos conhecidos pés morfológicos, eles falavam de pegadas ecológicas, sendo a pegada ecológica um índice que relaciona o consumo de recursos naturais renováveis com a capacidade ecologicamente produtiva da natureza.

Portugal, "é inacreditável, que nem é um país dos mais desenvolvidos" (diz assim o relatório), calca, por habitante, destruindo irreversivelmente, um pouco mais de quatro hectares, um pouquinho menos que a Alemanha, que é a maior economia europeia e pisa umas centenas de metros quadrados mais que nós.

Para nosso civilizado descanso, os Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos da América vandalizam cerca de 10 hectares por pessoa. No pólo oposto, não sei se isso é bom para eles, os moçambicanos, ou porque andam de chinelos ou em bicos de pés, não chegam a estragar um hectare.

 

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