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Ora essa!

 

Quando eu andava no Liceu de Alexandre Herculano, no Porto, andava lá um miúdo nosso colega que, por ter os dentes muito tortos e canhestramente semeados, usava, coisa muito rara na altura, um aparelho.

 

Ainda hoje os amigos de adolescência, que esqueceram completamente o seu verdadeiro nome, quando o querem invocar, usam a velha alcunha que lhe pusemos como prenda de ter ficado com os dentes tão certinhos, tão certinhos, que até pareciam macabramente postiços. Ele é e sempre será para todos nós, e sem a menor ofensa, o Aparelho.

 

Vejo-o felizmente muitas vezes e, ainda ignorando completamente o seu nome de baptismo, para evitar usar a desagradável alcunha, trato-o simplesmente e pelo seguro por Pá, que, no fim de contas, também é um aparelho, mas com outra finalidade específica.

 

Fora o passado problema dos dentes, ele levou sempre uma vida muito certinha, casou-se, tem filhos já bem crescidos, e a mulher, uma senhora adorável cujo nome desconhecemos, é, para todos nós, a mulher do Aparelho.

 

Veio-me isto ao caco, que como sabem é um maravilhoso aparelho pensante, quando li aqui no Público uma pessegada entre mulheres que discutiam entre si os resultados dumas eleições, tipo Bush no seu primeiro mandato, à tangente e de contagem muito duvidosa, para a presidência dum departamento partidário que resolveram criar entre si.

 

Não foi isso que me fez preocupar. O que me alarmou foi ver o bom-nome do meu velho amigo envolvido nesta celeuma, ele, que todos os que o conhecem juram ser um marido exemplar, não apenas na perfeição dos dentes, mas na sua relação conjugal.

 

Sem qualquer rebuço, começaram a trocar galhardetes, dizendo umas que as outras eram mulheres do Aparelho e estas, em sua defesa, afirmando que com ele nada tinham a ver.

 

Houve mesmo uma, e essa garanto eu que não é a mulher do meu amigo, que disse ser “a única pessoa que pode ser conotada com o Aparelho”. E acrescentou: “É pena que muitas mulheres dêem exemplos daquilo que criticamos nos homens”.

 

Será que ela está insinuar que os homens são todos uns mulherengos?

 

Ora essa!

 

 

*** Eleições para a presidência do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas (DNMS)

 

*** A senhora que disse ser "a única pessoa que ..." ,  "É pena que... "  foi a conceituada Dra. Edite Estrela, na altura muito bem instalada como eurodeputada.

 

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