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Os carros dos combatentes

 

O carro do senhor director-geral dos Impostos foi bloqueado, rebocado e retido durante vários dias. Se não se disser mais nada, todos vão pensar que, mais uma vez, um bando de assaltantes marginais, sem olhar a quem, foi o autor de tão vil proeza. E logo, muito humanamente, vão interessar-se pelo estado do senhor director-geral. Se foi molestado, se foi sequestrado, se já está em casa, não me digam que também foi violentado!

Nada disso, felizmente! O senhor director-geral, graças a Deus, está bem. Apenas, com a habitual pressa que caracteriza todos os directores, em especial os gerais, e ainda por cima gerais e dos Impostos, deixou o carro estatal (bastante) mal estacionado.

A Direcção-Geral das Contribuições e Impostos (DGCI), em defesa da sua dama, ou melhor, a dama em defesa da DGCI, em face de tão aviltante ultraje, quer isentar os carros do Estado de pagar multas municipais de estacionamento.

Nos termos das Lei das Finanças Locais, diz a ofendida dama, os utentes públicos, quando em serviço, estão isentos do pagamento de taxas de estacionamento de duração limitada, criadas e cobradas, pelos municípios e empresas municipalizadas. E logo avisa os seus funcionários que não lhes serão autorizados quaisquer reembolsos de importâncias por eles pagas em multas deste tipo, dado que tais despesas não podem ser consideradas um encargo do Estado. Um Estado parado ou estacionado não paga multas.

"Muito bem! Muito bem! Muito bem!", ouço eu, à distância, num fundo uníssono, vibrante e sinistro, que muito ainda me amedronta, vozes de desagravo perdidas no tempo que tanto parece custar a passar.

Diz-se (e só dizer não paga imposto) que os bons exemplos devem vir de cima. Com tudo e todos assim tão por baixo, digam-me lá, mas muito a sério, como podem esperar que caia alguma coisa boa de cima?

 

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