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Os filhos de pai incógnito e de mãe paga à tarefa

 

 

Ao longo da minha vida fui conhecendo os mais variados tipos de patifes.

Em todos os sítios e a todos os níveis os encontrei. Uns muito raros e incipientes já na escola, então chamada primária, uns por aqui, outros por ali e uma chusma imensa nos dois locais de trabalho por onde passei. Muitas mais espécies há, algumas a quem apenas senti o cheiro e que felizmente nunca se me atravessaram no caminho, e muitas outras haverá que eu inocentemente ainda desconheço e que muito desejaria nunca vir a conhecer.

 

Encontrei de tudo ou, não querendo exagerar, de quase de tudo:

sabujos rasteiros, impostores astuciosos, bajuladores nojentos, aldrabões convincentes, traidores miseráveis, sedutores ardilosos, palradores emproados, vira casacas sem vergonha, servis lambe botas, vigaristas de gravata e sem ela, batoteiros sem escrúpulos, mentirosos descarados, ladrões de cara honesta e outros cuja cara nunca me enganou, enfim, bandalhos e pulhas de todo o tipo, densidade e volumetria.  

 

Um dia destes, ao ver um deles, muito bem instalado na vida, a pavonear-se na pantalha da televisão, vieram-me logo à mente muitos outros que, embora distantes no tempo e no espaço, mais uma vez me voltaram a atormentar em mais uma noite terrivelmente longa e muito mal dormida.

 

Para descarregar um pouco, e já que não os consigo esquecer, resolvi organizar uma lista com os seus nomes, datas, locais e os seus mais vergonhosos feitos. Vou fazê-la no “Excel” para facilmente os poder ordenar por este ou aquele critério e a todo o tempo acrescentar linhas com novos nomes e colunas com outras façanhas que me tenham podido escapar.

 

Já sei que vou ter um trabalho descomunal mas, agora à distância, no espaço e no tempo, mesmo sabendo que jamais vou conseguir purificar-me eliminando toda a raiva residual, acho que me vou fartar de rir!

 

 

 

***

Quem me ajuda?  Não consegui encontrar um título menos longo para esta crónica!

 

***

Passado muito tempo depois de  ter escrito esta pequena crónica  ainda continuo a preencher a lista  Excel  onde  vão figurar os nomes e os feitos dos muitos  filhos de  pais incógnitos  e de mães pagas à tarefa.... que se atravessaram no meu caminho.

 

Porquê tanto tempo?  perguntar-me -ão.

 

Eu explico : 

 

a minha lista não é grande. O  problema é o espaço celular que ocupam esses grandes filhos da puta.   

 

 

 

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