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Os segredos da cozinha caseira

 

Pataniscas de chouriço com arroz de grelos à moda da avó, Cabrito no forno com batatinhas à tia Alice, Bacalhau recheado à Zé da Quinta, Cozido à Celestina da Praça, Sardinhas panadas com arroz malandro à Manel Peixeiro, são exemplos de pratos que fazem crescer água em qualquer boca portuguesa, por mais debiqueira que ela seja, por mais saciada que ela esteja. Se acrescentarmos pão de mistura cozido em forno de lenha, peras na púcara em vinho tinto da pipa velha, pudim de ovos com amêndoa da D. Matilde, então, garanto que a água brota mais farta que a que jorra da boca de leão em lago de jardim.

 

 Não falando no apetitoso e também suculento prato do dia, ou melhor, do mês, “Quem tenha exercido ou exerça o cargo de administrador do Banco de Portugal ou da Caixa Geral de Depósitos beneficia de condições de reforma vantajosas relativamente à generalidade dos trabalhadores portugueses”. Com o título “Pensões douradas nos bancos do Estado”, lemos, famintos e macilentos, no Público/Economia do dia 2 de Setembro, as razões de tais “estímulos” e entendemos porque é que, mesmo com o cinto no último furo, nos está sempre a cair o raio da tanga. 

 

Tais benefícios são confeccionados também seguindo receitas caseiras, conservadas em rigoroso e inviolável sigilo; não figuram em qualquer ementa e não são pratos que constem do menu apresentado na sala. Tudo se passa na cozinha num fogão a lenha, que só queima madeira exótica, com um poderoso exaustor que tem um eficiente absorvedor de cheiros incorporado. Cá fora, apenas se insinua um agradável cheiro a fumo de charuto. Nem um cheirinho a comida! Na cozinha a confeccionam, em segredo a comem, em público discretamente a digerem.

 

Na sala, prato único: sopa de beldroegas, carapauzinhos com arroz da véspera aquecido em lume brando. Azeitonas, pão e uma peça de fruta. Melão (do grande) há todo ano e serve-se, à discrição, em grossas fatias.    

 

 

 

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      O conluio dos vencimentos de certa (muita) gente de popa que (se) serve (à farta) do Estado que vai (armado em distraído) à proa.

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