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Palavra pucha palabra

 

No nobo acôrdo hortográfico, queu já cumprei pra num dar erros, à um grandessíssemo númaro (1) de palabras que, cá pra minhe, nunca fize nem nunca na bida fazerei (2) utlizaçom. Arresolbi  atão escrever este têsto (3) que, cum este, raispartá bida, já é o sêsto (3).

 

Um dia essas gentes finas lá de Lisboa inda hádem (4) ver que eu tinha rezão. Se nãoe beijum  o que maconteceu ountro dia im que estaba um calor do caraças e eu ia a Gundomar tratar de tirar uma sartidom na Cambra e ia no meu Bolquessebaige cuas janelas todas abertas inté baixo porque meter ar acondicionado custa uma porrada de cacau e eu a cumprar  a cumprar bou mazé cumprar uma abentuinha daquelas de pôr na plantaforma (17) do tabliê cuma imaige da nossa sinhora de Fátima quim prencípio ( 1 ) bai tudo dar ó mesmo. 

 

Nisto, cando olho pró manómetro da temperatura (5) arreparei que marcaba pra cima de curenta ( 6 ) muita sartinhos (7) mais kilhómatro (8) menos kilhómatro. Olhei logo pró manómetro das oras (5) que num teim punteiros e só teim uns númaros (1) de cada lado cum dois puntinhos a piscar ó meio e  bi que debia já ser prái meidia a passare. Na rádio festival adonde está sempre a dar discos pedidos beio um sinhor da metriologia (9) pra dezer que lá prás três cuatro oras os tarmómetos inda io assubir (10) mais pra cima.

 

Mal encherguei uma lixeira cheia de gaibotas im cima e munta merda im baixo e tamém im cima parei logo o carro ali á sumbrinha e cuma chábe de fendas que nunca me larga adesaparafusei o manómatro da temperatura (5) do tabliê e púzio munto rentinho ó chom. Inda num medi, mas a brincar a brincar o tarmómetro desceu (10) logo prái um metro ó mais.

Fichei as jinelas de trás pra alebiar um bucado a bëntania do caraças quia lá trás, pus o catubêlo de fóra e tirei um bucado o pé do assalarador (9) porcáquela blocidade inda podia mazé instamparme.

 

Oube um periúdo (2) que chiguei mesmo a ter caguefes quando binha pra cá um Tóióta braunco cum caixecol bermeilho a sair do bidro de trás e binha prái a curenta (6) ó mais num quero mëntir.

Tirei a mão da roda do bulante e apuntei-le o dedo grande do meio pró ar e o gaijo chamoume côrno e eu iame indo instampando quando puz a cabeça toda de fora pra le dizer que côrno és tu meu grandecíssimo filho da p … cum todas as letras coma mandó tal acôrdo de queu ando a lêr ós bucados na sëntina.

 

Cum dois dedos no ar, o mëndinho e o dapuntar, mandei-le comprimentos (13) prá p… da mãe dele e ele disse que seu pará-se me estendia ali inteirinho ó cumprimento (13) seu grande filho da p… disseme o grande malcriadom e arrespondi-le eu da mesma manara (14). Isto pelo que teinho bisto e óbisto (15)  só proba que de sarteza (7)  num hão cidadões (2) neste país e, si os hão, hádem (4) ser em númaro (1) munto piqueno (16) .

 

 

 

 

     Autores principais das chamadas introduzidas no texto

 

( 1 ) Miguel de Sousa Tavares

( 2 ) Cavaco Silva

( 3 ) gente da fina

( 4 ) Jorge Coelho

( 5 ) linguagem de oficina e de rua

( 6 ) Judite de Sousa

( 7 ) Jorge Jesus

( 8 ) Alberto João Jardim e outros de lá, bem como alguns daqui do continente

( 9 ) a maioria dos automobilistas

( 10 ) gente da TV

( 11 ) o condutor normal

( 12 ) o trema indica que o “e“ é quase mudo

( 13 ) cumprimento e comprimento – uma grande baralhada

( 14 ) locutores do Norte a quererem parecer que são de Lisboa

( 15 ) o lusófono doutor Miguel Relvas diz "visto e ouvisto"

( 16 ) gente fina da capital e grossa de outros sítios

( 17 ) Poiares Maduro (!) recentemente, e outros menos maduros permanentemente.

 

 

 

***

A base do teisto teinhe um forte e munto saberoso sabor norteinho e é sarrado comó carai...

Só teinho pena é de num poder aqui dezer tudo, tim tim por tim tinhe.  Fo...rra!

 

 

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