
Parque, para que te quero?
Junto ao Centro de Saúde de Portalegre, também como este implantado no declive da Serra, foi construído um parque destinado a acomodar automóveis. Não sei se é muito ou pouco utilizado, mas todas as vezes que o admirei, (e me admirei), apenas pude ver, em ziguezague, um escasso número de carros nele estacionados, uns virados para a bela paisagem que dali se desfruta, outros, talvez de castigo, voltados para as paredes feitas de calhaus graníticos ensacados em prismas com paredes em rede grossa de galinheiro.
O acesso é fácil porque faz-se de carro e a descer, mas o retrocesso deve ser extremamente penoso, para os menos jovens e os pouco preparados fisicamente. O apreciável desnível que há que calcorrear até alcançar, lá em cima, a estrada tira a coragem até aos mais robustos e bem preparados fisicamente. Imagino, com antecipado pavor e já a escorrer grossas bagas de suor, o que será utilizá-lo e subir aquilo tudo no pino do Verão, sob o calor tórrido que sobre ele inclementemente se abate.
Se aquela treta foi construída para apoio ao Centro de Saúde para recuperação de gente obesa necessitada de exercício para abater o peso, ou para provas de esforço para avaliação da capacidade cardíaca dos seus utentes, ou outro qualquer teste clínico que implique esforço, tudo bem e os meus sinceros parabéns. Poucos ou nenhuns Centros de Saúde em Portugal se podem orgulhar de tão original e bem concebido equipamento.
Se aquilo não tem nada a ver com o Centro de Saúde, então, há que fazer alguma coisa para não perder todo aquele dinheiro que foi desbaratado e dali tirar algum partido. Pus a mim próprio o problema e estudei várias soluções que analisei profundamente, das quais apresento apenas algumas:
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Adaptar o recinto a um kartódromo. (Lembrei-me do Centro de Saúde e da gente que vive ali ao lado, e logo abandonei esta minha primeira ideia. Demasiado ruído e assinalável perigo de despiste dos condutores que os levaria a voar pela serra abaixo, aterrando não sei bem onde.)
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Utilizar o espaço para a realização de diversos desportos radicais, como, por exemplo, o “skate”, a asa delta, o parapente, etc.
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Aproveitar os muros para a prática de exercícios, como o escalamento de obstáculos e outros, das forças militares e paramilitares.
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Fazer do local uma zona de flagelação para remissão dos pecados ou agradecimento de graças recebidas.
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Desatar os tais sacos de rede de galinheiro e fazer concursos de lançamento das pedras pela serra abaixo.
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Abrir buracos no alcatrão e plantar lá árvores de todos os portes para tapar muito bem os sacos de pedregulhos.
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Destinar o local para parque privativo da Câmara Municipal de Portalegre e dos visitantes mais ilustres.
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Não fazer nada, deixando tudo tal como está, e considerar aquilo um monumento nacional, devidamente assinalado nas brochuras do Turismo e nas placas já existentes, onde se indicam todas as coisas dignas de ser vistas na cidade de Portalegre.