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Poche!

 

Os deputados do Parlamento Europeu têm um salário mensal fixo, pago pelos respectivos parlamentos do país que os elegeu.

Só para dar uma ideia da injustiça que ali se pratica, vejam só: o sortudo do italiano enfarda 12007 euros, o azarento do alemão ensaca 7009 e o desgraçado do húngaro enfia 761. Se forem portugueses auferem apenas 3448, mas elevam aos píncaros dos Pirinéus a nossa auto-estima e orgulho nacional, envergonhando os vizinhos espanhóis que não abicham mais que uns míseros 2773.


Há bem pouco quiseram, humanamente, alterar a coisa, pondo toda a gente a ganhar os mesmos 8500 euros mensais. Quatro ovelhas ronhosas, a Alemanha, a Áustria, a França e a Suécia disseram que estava tudo muito bem assim e, tendo todos eles a elevada educação que lhes é bem reconhecida, não disseram, sequer em voz muito baixa, que se lixem os húngaros, se amanhem os checos ou se esfolem os polacos.


Interroguem-se os leitores só um pouquinho e avaliem em que dá toda esta desumanidade, em que há gente que chega a ganhar 16 vezes o que outro que, em princípio, faz o mesmo, que pode ir do nada e muito mau, sem ninguém lhe ir às unhas, até ao muito e bom, sem receber qualquer galardão. A treta do salário igual para trabalho igual fica na gaveta, mas descansem que outras gavetas se abrem.


Vejam, entre outras, algumas mais que eles, de cara levantada, podem abrir.


Podem, por cada viajem de avião entre Estrasburgo e Bruxelas, receber o valor do bilhete em classe económica plena que custa cerca de cinco vezes o que custa a classe mais baratucha que utiliza a maioria dos outros mortais. Poche!


Podem ser indemnizados em função da distância que têm de percorrer regularmente para chegar ao centro da Europa. Quanto mais longe, melhor. Para gente que more a mais de 2400 km entram mais 558 euros por semana. Os portugueses estão bem quando vão para Estrasburgo, embora não tanto como quando vão para Bruxelas. Poche!


Podem, se não faltarem às reuniões do Parlamento Europeu, receber por cada presença 262 euros para as despesas de alojamento, refeições e deslocações. Se não faltarem, serão indemnizados em cerca de 3000 euros por mês. Poche!


Podem, (de cara levantada?), ir assinar o ponto e pisgar-se, de imediato, pela mesma porta, ou por outra mais retirada, se tiverem um pouco de senso e vergonha. Poche!


Podem dispor de gabinetes de trabalho, quer em Estrasburgo quer em Bruxelas, equipados com sofá-cama e casa de banho completa, de que se servem, metendo na conta os custos do hotel. Poche!


Podem receber 3700 euros por mês para despesas com o gabinete nos seus países de origem. Poche!


Podem dispor de 12500 euros por mês para pagar aos seus assistentes. Olá! Aqui fia mais fino, pois que, para evitar fraudes (sim, fraudes), o pagamento é feito directamente aos tais assistentes. Ai é? Venham de lá a mulher, os irmãos, o gato, o cão e o tal periquito e está a fraude ultrapassada. Poche!


Noto só agora que há qualquer coisa de mal no meu computador: sempre que escrevo a palavra “poche” ela aparece-me sublinhada a vermelho. Se calhar poche escreve-se de outra maneira! Será Porsche? Não interessa, vai assim.

 


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 a globalização da escandaleira

 

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 como agora o francês não se ensina nas nossas escolas, nem fica nada bem falar francês, (não vá tomarem-nos por emigrantes em vacanças), eu esclareço que POCHE , em francês,  significa BOLSO, em português.

 

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