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Porque será?

 

 

Sou um dos quinze em cada cem portugueses que se interessa por Portugal. Pertenço ao grupo dos que nasceram antes do Abril de 1974 onde, surpreendentemente, parece estar situada a grande maioria dos interessados pelo seu país.


Será que a ditadura, a falta de liberdade, a esperança perdida, o horizonte limitado e todos os outros tão cantados e badalados malefícios, a nós, os mais velhos, nos faziam interessar por uma coisa assim tão desinteressante como era este quinhão de terra onde havíamos nascido?


Que faz então os mais jovens, que não viveram esses tão amargos tempos, desinteressarem-se pela sua pátria?


Embora muitos deles, ao que parece, a maioria, não imaginem o que isso seja, não creio que algum queira tentar uma nova dose de ditadura e nem me passa pela cabeça que quem quer que seja queira perder uma só pitada de liberdade.


Ou será que a jovens e velhos, do antes e do depois, continua a faltar a esperança? Ou que ainda mais se fecharam os horizontes e novos malefícios apareceram?


Que pavor me faz pensar que um dia novos baladeiros, muito bem escanhoados e a cheirar a alfazema, venham cantar velhos poemas muito bem alinhados e com uma métrica assustadoramente certinha!
Porque será?



 

***  Estudiosos chegaram à conclusão que só 15 por cento dos portugueses se interessam pelo seu país.

     Mandei esta crónica para o Público que não a publicou.

     E eu que até a achei digna disso!

 

Maio de 2006

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