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Portas escancarado

 

Confrange-me ver o ataque cerrado a Paulo Portas, ministro de Estado e da Defesa, em exercício. Não porque ele seja um anjo, não porque ele precise da minha piedade, mas apenas porque me faz dó ver os que, à viva, e até à moribunda, força, desejam só, e apenas só, derrubá-lo, usando argumentos de toda a ordem onde tresanda a vingança, onde sobressai a inveja, onde se exibe a baixeza, onde rasteja a cobardia, onde se evidencia o despeito, onde se encaixa tudo o que possa ser classificado de vil e ignóbil.

Se ele, como a maioria esmagadora de todos nós, não é um exemplo de virtudes, se ele como pessoa não é boa fruta, se ele apanhou a que caía da árvore que outros abanavam, se a esta mesma árvore, disfarçadamente, também se encostou para ajudar à queda e se a árvore era de quem a abanava, que tenho eu a ver com aquilo que não me diz respeito? É, isso sim, muito importante, que ele nunca tenha saltado o muro do quintal do vizinho para lhe abanar a árvore e apanhar a fruta sem a respectiva autorização. De resto, estou-me nas tintas se ele vende a fruta que lhe deram, se ele a come às refeições ou se dela faz compota.

Se declara e paga os seus impostos, (com ou sem atraso), se cumpre as regras de trânsito com o Jaguar que privados lhe deram e se vai governando, ao que me parece eficientemente, que razão tenho eu para o recriminar?

Se ele, nos mercados, com a visível hipocrisia de todos os políticos, beija peixeiras escamadas e abraça talhantes ensanguentados incomoda-me muito menos do que se ele gostasse de dar caramelos recheados com licor, comprados com o seu dinheiro, a chimpanzés enjaulados.

Se ele, conforme as circunstâncias, anda com o seu boné, põe a sua boina ou enterra o seu chapéu perturba-me menos do que me apoquentam os seus detractores, quase tudo gente que tem mostrado ser capaz de enfiar na cabeça seja o que for, desde o chapéu tirolês ao sombreiro mexicano, passando pelo grande barrete que todos nós ajudamos a pagar.

Se ele dança o vira no mercado, ginga o tango no clube ou rodopia a valsa no salão, haverá, entre os que o querem enxovalhar, alguém que não tenha "pimbado" músicas, por medida, em qualquer populoso lugar que rende uns envergonhadores votos?

Esses que, invocando o interesse do país, lhe farejam a vida, lhe rosnam de longe aos calcanhares, estão mais interessados em encontrar o que ele tem de bom e que sejam infundados os rumores com que o querem enlamear, ou preferem, antes, para seu infame proveito, descobrir-lhe os podres e exibi-los como se fossem troféus, sabendo de antemão que tudo pode ficar pior para os outros que não fazem da política nem um negócio nem uma religião?


Senhor doutor Paulo Portas, desculpe-me o atrevimento de ter vindo em minha própria defesa.

 

 

***

Paulo Portas está no Governo e atiram-se a ele como cães raivosos.  O problema é que ele é bastante melhor do que a maioria dos que a ele se atiram, o que não significa que ele seja uma boa peça.

 

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