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Portugal lançado às férias

 

Os feriados, os fins-de-semana, as pontes, as tolerâncias, as baixas, as dispensas, as faltas justificadas, (as outras), as pausas para o café, as greves justas, (também as outras), o despertador, o autocarro, o carro, a avaria, o engarrafamento, o lugar para o carro, as férias, que mais, meu Deus? Que mais faz, todo o ano, arrastar-se, indolentemente, o país, para, chegado Agosto, o vermos quase parado?

Façamos, primeiro, em passo curto, uma volta pelos dias da semana.

É segunda. "Então, esse fim-de-semana foi mesmo bom?" Fala-se algo sobre o sábado, mas no domingo mal se toca, pois, como sempre, ele foi mais que chato, no fim, já com um cheiro intenso a mais uma semana que vai começar.

Agora é terça. Começam as primeiras lamúrias de que "nunca mais é sábado".

Chega ligeira a quarta. Saem promessas e ameaças "Hoje já é quarta, agora, só para a semana, mas não garanto".

Vem a quinta. "Nem pensar, tenho montes de coisas em cima da secretária e amanhã já é sexta. Bom fim-de-semana. Tchau!"

"Hoje é sexta, para a semana vemos isso. Até segunda, bom fim-de-semana. Igualmente, obrigadinho. Tchau!"

Alarguemos, agora, o passo para galgar os meses.

Janeiro. Ainda se ouvem os mesmos estafados desejos e votos estafados. "Feliz Natal? Continuação! Bom Ano". Por toda a parte Bing Crosby canta o Gingle bell, como fazia o meu falecido tio Alberto enquanto fazia a barba com navalha. Muitos presépios e pinheirinhos continuam em exposição com luzinhas a apagar e a acender.

Fevereiro. "Este ano o Carnaval calha neste mês. Vamos aproveitar a ponte para ir até ao Algarve".

Março. "Não aguento. Estou, a precisar de férias como de pão para a boca!"

É Abril, marcam-se gulosamente as férias. Há zangas e disputas mais ou menos passageiras; todos querem ir no mesmo mês. "Já há dois anos que vais em Agosto. Sou sempre eu quem se amola".

Maio chegou. Os mais ansiosos (ou necessitados de receberem o subsídio de férias), começam a gozar uns dias; uma, quando muito, duas semanitas. "Onde foste?" "Olha, fui lá cima à terra e andei por aí entretido."

Junho está aí. O tempo aquece. "Não posso com o ar condicionado. Se não fossem os exames da minha filha mais velha, metia já férias. Estou cheia até ao tutano. Aturar isto! O que vale é que este mês vamos ter muitos feriados."

Julho, finalmente! Não vem só; traz consigo o abençoado subsídio. "Sempre vais a Cancun? Se calhar fico-me por cá. Não me apetece nada voltar a ir a Cuba e já começo a vomitar Punta Cana. Não suporto mais o Algarve. Não fossem as tartarugas e onde ia este ano era às Seychelles."

Agosto está aí! Ninguém está cá. Os que ficaram quase se escondem; pouco aparecem e, quando o fazem, fazem-no, de calções a mostrar pernas brancas com pés enfiados em chinelas digitais, pelos "shoppings" e supermercados. "Então já gozaste as férias?" "Este ano fui em Julho, para o ano há mais". Os que ficam desamparados a trabalhar, esbarram em tudo e tudo fica suspenso. "O senhor Freitas foi de férias e só vem em Setembro. A seguir vou eu gozar o resto do que ainda me falta".

Setembro. Anda tudo com ar cansado, …a pedir férias.

Vem Outubro. Trabalha-se já a pensar afanosamente no Natal. "Se não nos voltarmos a ver, Boas-festas."

Novembro começa bem; com um ou dois feriadinhos. O Tempo está chato; mete-se a morrinha no corpo e não apetece trabalhar.

Por fim, Dezembro! Três feriados, tolerâncias, o subsídio e as eternas ilusões de Natal. "Boas-Festas, Feliz Natal, Bom Ano"; pelo meio, "continuação". "Gingle bell, Gingle bell". Tudo anda a meio vapor e já há quem, ávido, comece a consultar agendas e calendários do ano que vem, para ver em que dia calha o Carnaval e a Páscoa e se há algum maldito feriado que, este ano, coincide com um sábado ou um domingo.

Se me vejo em férias!



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       Em Julho e Agosto de cada ano, Portugal fecha para obras.

 

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