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Será desta?

 

Já não é a primeira vez que tento patrioticamente ser escolhido para candidato por qualquer partido, dum extremo ao outro do nosso espectro político, e, de norte a sul, por qualquer círculo eleitoral.

 

Demonstrei, em eleições anteriores, ser um cidadão que conhece bem todo o seu país, descontando as ilhas. Fui apenas à Madeira em Setembro de 1974, logo após a Revolução de Abril, mas confesso que não tive tempo de me aperceber dos seus reais problemas, deslumbrado com a sua beleza natural, babado com as suas espetadas ao sobrenatural, e inebriado com o cheiro suave e as cores intensas das estrelícias.

 

Nessa altura, numa carta que enviei ao Público nele publicada em 4 de Fevereiro de 2002, confessei que apenas não tivera ainda a oportunidade de conhecer Setúbal, mas com a promessa de lá ir antes dessas eleições. Sou um homem de palavra, um atributo para poder ser escolhido, e, com o maior zelo, outro grande predicado para o mesmo efeito, lá fui eu a Setúbal. Deliciei-me com os salmonetes, adorei os bifes de espadarte e tomei bem nota dos graves problemas que afligiam o povo de todo o distrito.

 

Na altura, nem num só círculo eleitoral alguém se lembrou de mim! Nem, como gentileza política, nos considerados lugares não elegíveis o meu nome apareceu, o que, aliás, eu, se tal acontecesse, iria repudiar veementemente, depois de pensar, pelo menos, duas vezes.

 

Estou novamente muito magoado mas, desta vez, além de magoado, no recôndito fundo do meu íntimo, extremamente envergonhado.

 

Vejam só que, quer o meu filho mais velho, que fez agora o décimo primeiro ano e pertence a não sei que Jota, quer a minha filha do meio, que anda no segundo ano de Agronomia e nem a Jota alguma vez na vida pensou aderir, mas que apenas teve a sorte de pertencer à quota reservada a mulheres, ambos, ele por Beja e ela por Viseu, estão com lugar garantido no futuro Parlamento.

 

Será desta vez que vou ser lembrado? Eu que, uma vez, levei a família a Beja e a Viseu, com aqueles dois miúdos de eleição pela mão e a minha mulher grávida de sete meses da minha outra filha que vai fazer anitos, por curiosa coincidência, no próximo dia 20 de Fevereiro, pouco depois da mais um Carnaval!

 

 

 

 

***

     Mais umas eleições para a Assembleia da República e para mim ... nada!

 

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