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Socorro!

 

Tenho estado a receber estoicamente, só por dia, mais de 500 MB de todos os tipos e feitios de frescas novidades e velhas antiguidades.  

 

São historinhas, em geral brasileiras, muito filosofadas e plenas de alcance esotérico, que me dão comoventes lições de moral e me fazem mergulhar nas próprias lágrimas dos meus caudalosos prantos.  

 

Mostram-me cãezinhos, gatinhos, (e gatinhas, umas em pêlo, outras com muito pouca roupinha sobre o tal p), leões muito bondosos e pachorrentos a lamber gatos sempre impostores, mas enternecedoramente meigos, cadelas muito ternas a dar leitinho a ursinhos abandonados, jovens tigres famintos a lamberem as feridas de velhos leões agonizantes, e, numa empenhada luta anti-racismo, lá me vêm com macaquinhos pretos a brincar com jovens cangurus albinos totais.

 

 Enviam-me a jorros imagens maravilhosas, que já me chateiam e estragam os dias e, o que é muito pior, as noites, mostrando a Patagónia, os fiordes da Noruega, a Capadócia, a Antárctida, as ilhas Fiji, o Cabo Norte, Paris à noite, Roma ao amanhecer, Veneza ao cair da tarde e Berlim, num lusco-fusco único onde um fétido cheiro a muro ainda se impõe.  

 

Pregam-me, como se eu fosse uma vulgar parede de museu, com pinturas de Van Gogh, de Monet, de Goya, da Paula Rego, de Zurbarán, de Dali e a maior parte, felizmente, Daqui. 

 

Inundam-me com imagens de Sócrates, em calções, a correr em toda a parte, e de Fidel de Castro, em fato de treino de marca muito bera, debruado com uma fitinha ostensivamente vermelha, a morrer-se, sempre teimoso, no hospital.

 

 Exibem-me o Sócrates umas vezes a mentir, outras a não dizer a verdade, e, isto muito raro, sorridentemente calado a cozinhá-las. Gosto muito de Sócrates, mas, para falar verdade, mesmo verdade, já não o posso ver.  

 

Aparecem-me com o palavroso Portas a metaforizar, como o saboroso Louçã a predicar, com o populoso Jerónimo a espumar, com o charmoso Santana valha-me Deus que azar, com o bondoso Guterres a rezar, com o zeloso Constâncio a mamar, com o grandioso Milénio a estourar, com o pomposo Berardo a comandar.  

 

Passadas umas horas, sei lá se minutos, voltam-me, outra vez, com o mesmo Sócrates a perorar, com o Mário Lino a asnear, com esse mesmo Mário Lino a recuar e com o desavergonhado Mário Lino Jamé, vejam lá onde isto chegou, a … governar!  

 

Pouco tempo passado, insistem-me com aquele mesmo Sócrates dos calções, agora a correr na praça Tiananmen, depois nos Campos Elísios, a seguir na Praça Vermelha e depois, na praia da Madalena, ao lado de Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa com uma tipa qualquer ao colo, alternando com duas brasileiras e duas ucranianas que ele sempre traz, de reserva, a tiracolo.  

 

No meio disto tudo, vão-me ameaçando com mau-olhado que me cairá em cima se eu não reenviar tudo dentro de 2 dias, pelo menos a 10 dos meus melhores amigos. Tenho medo. Hesito. Mando, não mando?  

 

Não vá o diabo tecê-las, vou mandar. E mandei. Desculpem!  

 

Grande sacana! Disseram todos.

 

Vão-se lixar! Digo eu.

 

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