Solitários e solidários

 

É conhecido pela alcunha de Solitário quem parece ter sido, até hoje, o maior assaltante de bancos em Portugal. Preferencialmente, escolhia dependências de pequena dimensão, quase sempre da Caixa de Crédito Agrícola. A razão da alcunha vem da sua livre opção por trabalhar por conta própria, como qualquer trabalhador independente que quer amealhar umas massas sem ter que aturar patrões.

Foi apanhado em Junho de 2003, ainda não vai um ano, e já foi julgado e condenado em cúmulo jurídico a 21 anos de prisão. Pelo seguro, e para cúmulo, usava uma arma de fogo para o que desse e viesse, e lá se foi amanhando com uns míseros 105 mil contos, na antiga moeda. As armas e as munições assinaladas, que na ocidental pátria lusitana utilizava, foram declaradas perdidas e apreendidas a favor do Estado. Como infeliz remate, teve ainda que pagar as custas do processo.

Agora, vejamos o que aconteceu com a Caixa Económica Açoriana e com a Caixa Económica Faialense. Em ambos os casos, grupos de muito bem conceituados cidadãos, que, por trabalharem coesamente em grupos, devem ser alcunhados de Solidários, fizeram coisa idêntica, mas em grandiosa escala e de sinal contrário. Comodamente, em vez de assaltarem bancos pelo exterior, como fez o Solitário, assaltaram, pelo interior, desarmados e sem munições, os clientes dos seus próprios bancos.

O processo da Açoreana, já prescreveu e milhares de aforradores ficaram sem as suas economias que, em quase todos os casos, representavam uma vida inglória de trabalho. Salvou-se a gente graúda que pôde salvar todo o dinheiro que por lá tinha, por ter sido avisada a tempo, por quem não sei. Ponto final.

O processo Faialense vai muito em breve prescrever e milhares de depositantes vão igualmente ficar na miséria, como é o caso de um deles que, solitário, anda a pedir pelas ruas e a quem o Estado resolveu dar mensalmente uma certa quantia até que o homem se esgote como se vai esgotar o tempo. Ponto e vírgula.
 

 

 

 

*** Alguém adivinha como tudo isto vai acabar?