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Tudo isto é triste

 

Asseguro que neste mesmo momento muitos devem estar a dizer o mesmo que eu: estou farto!  

 

Poderemos até não estar todos fartos da mesma coisa ao mesmo tempo, mas garanto, sem algum receio de errar, que o somatório dos que já dizem abertamente estar fartos disto ou daquilo, mais aqueles que ainda estão em vias de o fazer, é incomparavelmente superior ao dos atentos felizardos que, quase sempre à socapa e algumas vezes até às escâncaras, esfregam as mãos de contentes a dizer que isto agora é que vai ser. 

 

As notícias duma crise sem nome onde impera a imoralidade, das indomáveis cinzas de um vulcão cujo nome só por si cheira a coisa ruim, do inominável derrame de petróleo no Golfo do México, das inqualificáveis guerras que se arrastam eternamente, enfim, de tudo isto e tantas outras coisas que já cansa enumerar, as nossas televisões passaram dum golpe, em ditatorial e omnipresente simultâneo, tudo para distante e desfocado plano para dar a primazia a um anestesiante campeonato de futebol que nem sequer ainda começou e que, ganhe quem ganhar, em nada vai ajudar a resolver ou sequer a minimizar qualquer dos problemas que a todos muito mais deviam afligir.  

 

Para quem está farto de levar pontapés, de apanhar em cheio com bolas disparadas à queima-roupa, de sofrer mais ou menos traiçoeiras cotoveladas, de tropeçar nas mais disfarçadas rasteiras e de levar os mais camuflados empurrões, chega de empanturrar com tanto futebol!

 

Para massacre, já bem basta o nosso triste fardo.

 

 

 

***

A cortina de fumo do

Campeonato Mundial de Futebol de 2010

realizado na África do Sul.

 

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