
Um pedido à Liberdade
Escrevo, um tanto à pressa, antes que com qualquer engenhoso e bem maquinado ardil me possam vir a calar. Tenho urgentemente que dizer qualquer coisa para alertar os que ainda apareçam a tempo de ler aquilo que alguns bem instalados não querem que outros se atrevam a vir para aqui escrever.
Praticamente indefeso e sentindo-me cada vez mais desamparado, vejo-me regressar aos tempos em que os portugueses eram obrigados a tudo engolirem à força e com o maior dos temores tudo terem de silenciar.
Trinta e tal anos depois de se ter aberto uma luz na densa e longa escuridão que nos envolveu, eu e muitos outros mais que esses tempos viveram, recomeçamos a ter medo. Vemos à nossa volta, como nesse inesquecível e tão execrável período de trevas, agora de uma forma muito mais organizada e maquiavélica, (por isso, ainda mais temível), serem caladas vozes que não agradam aos que detêm o poder que, sem algum pudor, ousam falar em liberdade.
Em tão amargos e ainda não muito distantes tempos, que muitos de boa fé já julgavam irrepetíveis e ultrapassados, também sucedeu mais ou menos assim.
Liberdade, por quem és, não voltes a abandonar os que sempre continuam a acreditar em ti!
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Escrevi e enviei esta crónica para o PÚBLICO em 11 de Fevereiro de 2010.
O grande título da página do PÚBLICO de 12 de Fevereiro de 2010 foi:
"Primeira tentativa em 30 anos de censura prévia a um jornal falhou"
Logo a seguir, em subtítulo, dizia:
"Foram pelo menos duas as providências cautelares que tentaram impedir o semanário SOL
de publicar escutas".
Corajosamente, o "SOL" não se intimidou.