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Uma homenagem muito sentida

 

É engraçado notar como cada um reage ao insólito que vê à sua volta.

 

Sei de gente que tem reacções completamente opostas às minhas, e onde eu rio eles choram convulsivamente, e onde eu choro eles desmancham-se a rir.

 

Não sei explicar, porque nunca inteiramente entendi, (um dia recorrei a um bom psicólogo), por que razão, aqui em Portalegre, ao olhar, por exemplo, para um grandioso edifício como o Navio me dá um enorme vontade de rir, e topar com o monstruoso edifício Fontedeira me dá um irreprimível desejo de chorar.

 

Muito espantado fico também por ver gente que pasma, agradada ou desagradada, com tais grandiosidades e outra que passa indiferente como nada de inconcebível estivesse a seu lado.   

 

Sobre o Navio já falei, e fi-lo sem qualquer constrangimento, a rir-me para dentro e com um indisfarçável sorriso externo. Sobre o Fontedeira muito me está a custar falar, tal é a comoção que me invade e o desespero que me provoca aquele objecto.

 

O Fontedeira é, para mim um dos maiores crimes arquitectónicos, e especialmente paisagísticos, que se perpetrou na cidade de Portalegre. Não sei se, de todas as terras que fazem parte do distrito de que esta cidade é capital, há coisa assim tão aberrante.

 

Quem projectou aquilo não me interessa; fez o que lhe disseram para fazer e o problema de ter aceite fazer o que fez é inteiramente seu. Mas, quem permitiu que tal monstruosidade se erguesse gostaria eu bem de saber quem foi. Não para o mandar prender, não para que alguém mais robusto que eu lhe desse uma boa sova, e ainda muito menos, longe de mim, para procurar reformular a nossa lei para que se reinstalasse a pena de morte por enforcamento em praça pública.  

 

Não vale a pena discutir o indiscutível e daí que sobre aquele monstro, que incomoda tanta gente, não quero aqui muito mais falar. Direi apenas o indispensável para que se entenda bem a minha pretensão.   

 

Como todos podem ver, este despautério de betão, tem na sua frente uma monumental escadaria que poucos se atrevem a subir, preferindo assisadamente ir à volta, para entrar pelo lado no chamado centro comercial, ou entrando pelas traseiras para aceder aos seus apartamentos que pelo menos excelentes vistas para a cidade devem ter. Uma outra escadaria esfalfante, que nunca utilizei nem jamais vi por alguém ser utilizada, leva ao patamar superior do referido centro comercial.

 

Ora bem. O patamar que fica no topo do primeiro lanço de escadas é o que me está debaixo de olho e tem espaço suficiente e digno para eu me atrever a formular uma proposta que me parece exequível e de alto valor pedagógico.

 

Algures nesse patamar, proponho que seja colocado, bem de frente para a linda obra que fez, o busto em bronze do grande responsável que deixou andar as coisas e permitiu que se implantasse uma anomalia daquelas naquele sítio, onde passa tanta gente respeitável.

 

Tal busto seria suportado por um adequado pedestal onde constaria o nome e os feitos dessa ilustre figura. Não tenho dúvidas, que ele e outros hão-de vir a figurar num livro que deve ser publicado, com a maior urgência, intitulado “As Maiores Figuras da História da Destruição de Portalegre”.

 

Querem maior castigo?

 

Ou será que o homenageado é um bronco tão obtuso que vai ficar todo emproado, a pensar que finalmente lhe estão a fazer justiça?!

 

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