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Uma lista quase sem nomes

 

Se eu tivesse de elaborar uma lista de pessoas incapazes de faltarem à verdade ia ter as maiores dificuldades. Confesso que já o tentei, mas tive de parar quando, exausto e desesperado, vi que ia ficar com uma folha de papel, praticamente em branco.

 

Há felizmente por aí, não duvido, muita gente incapaz de dizer uma só mentira e que tal pecado apenas cometerá por uma razão nobre, como salvar uma vida ou evitar uma qualquer catástrofe. Neste caso, a mentira classifica-se mesmo de piedosa e, todos, ou melhor, quase todos acabam por entender os motivos que levaram o seu autor a mentir. Este, muito justamente, acaba, ia quase dizer sempre, não apenas por ser perdoado, mas mesmo por ser louvado.

 

Em tempos não muito remotos, havia uma palavra sagrada que se chamava honra.

 

Dar a palavra de honra era algo de muito sério que bastava, sem papeladas, reconhecimentos de assinaturas nem selos brancos, para fechar um negócio, para firmar um compromisso, para cumprir um dever assumido, enfim, para garantir que o que fora acordado ia ser rigorosamente cumprido.

 

Quem faltasse à sua palavra, perdia a honra e perder a honra não era o mesmo que perder um qualquer comboio, por mais tê-gê-vê que ele fosse.

   

Em dada altura, a coisa começou a descarrilar e muitos, sempre gente extremamente persuasiva e insinuante, mas sem ponta de honra averbada no seu cadastro, começou a usar e a abusar dessa palavra honra, servindo-se, sem quaisquer peias, mas com desavergonhada audácia, de algo que não tinham.

 

Agora, pensemos, só por um momento que seja, na celeridade e eficiência da Justiça se bastasse confiar na palavra das pessoas, pelo menos na das que se esperaria, sem a menor dúvida ou hesitação, ser, simplesmente, gente honrada? Nada mais!

 

 

 

 

***

O País e o Mundo vivem uma época em que a honra cada vez mais vai rareando.

Os mais poderosos dão os piores exemplos. Vai quase ser impossível voltar a trás para reabilitar a dignidade e o significado que, até há bem poucos anos, a palavra honra sempre teve.

Para onde iremos, assim?

 

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