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Viver na Lua

 

Depois de longa ausência na Terra, regressei à minha querida Lua, onde, há bastantes anos, nasci. Na Terra vivia ultimamente com uma reformazinha do tipo lunar monofásico, sempre em minguante, com a massa a decrescer e a gravidade sempre a aumentar, quaisquer que fossem a altitude, a longitude e a latitude do lugar onde me pudesse encontrar. Quase de repente, o meu peso gravitacional começou, sustentadamente, a tender para zero.

 

Se aqui sou muito mais levezinho é apenas porque as leis da Física, que são universais, também por aqui se aplicam e o valor do produto da minha massa, (que cá se mantém normalmente constante), pelo da aceleração da gravidade (que é bastante inferior ao da Terra) se mantem quase constante. Na prática, até vai crescendo porque aqui não se pagam impostos não há credores nem outros descarados sugadores. Fiscalmente falando, isto aqui é um Paraíso onde não há cobras, nem Evas nem Adões.   

 

Esta tão bela Lua em que nasci, onde agora volto para acabar os meus longos dias envolto pelo mais que genuíno e puro luar, tem água lamacenta e muito turva para eu beber, tem ar bastante condicionado para eu respirar, tem lenha para eu me queimar e até tem meia dúzia de lunáticos desonestos que vivem no outro lado, na chamada face oculta, e muito gostariam de me pôr a larga pata em cima, como na Terra sempre quiseram fazer. Tudo somado, a vida aqui é outra porque ninguém me chateia nem tenta, descaradamente, ir ao bolso, apesar de eu ser um autêntico lunático.  

 

Aqui não há televisão porque tele estamos e cegos não somos.

Estádios há-os por toda a parte pois qualquer cratera serve para, quase sem esforço, dar uns valentes chutos e umas impressionantes cabeçadas.

 

Aqui anda-se aos pulos e vai-se daqui ali num só pulinho, pelo que o negócio das auto-estradas não dá e, se há, só se for do outro lado, na tal face oculta, onde nunca fui nem me apetece ir pois posso jurar que por lá vive regaladamente a escumalha endinheirada que explora a malta aí na Terra.

 

Não havendo auto-estradas também não há portagens. Aqui só paga portagem quem, como a própria palavra sugere, gosta de ver o Porto. É a única coisa em que gasto umas massas lunares porque não passa o dia em que eu por lá não vá dar uma ou mais voltinhas para matar saudades a ver o Bolhão, a espreitar a Ribeira e a gritar pelo Pinto da Costa.

 

Olé!  

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